domingo, 23 de janeiro de 2011

O pecado de desejar

E de repente olho pela janela e vejo-o. Não que eu visse ele perfeitamente, mas antes, durante a tarde, já havia olhado para seu corpo. A pele estava bronzeada pelo quente Sol que incide no Trópico de Capricórnio. Usava uma camiseta cor berrante. Tinha a barba pro fazer. Os olhos demonstravam uma seriedade em minha direção. Como se dissessem: "-Não se aproxime!". Cumprimentou com a cabeça e passou, entre outros homens que passaram pela minha visão, pela minha frente, pela minha vida. Tinha um sorriso maroto enquanto conversava. Mas, agora, em silêncio, debaixo da minha janela, olhava aflito o celular que não tocava. Talvez esperasse que alguma menina, conhecida aqui ou ali, ligasse convidando-o para esticar essa preguiçosa madrugada de segunda que começa a se esvair. E lá estava, em um dos bancos. Sentado. Com as pernas cruzadas. Com a barba por fazer. Esfregando as mãos como quem espera. Espera algo que pode não acontecer. E eu, da janela do meu quarto começo a fantasiar coisas que nunca aconteceriam. Imaginei aqueles olhos velando o meu corpo e que aquela barba por fazer poderia passar pela minha pele e enquanto eu sentia aquela sensação áspera, seus braços e suas mãos poderiam esquentar o meu corpo...
E a vontade foi me tomando. E, de repente, ele se levanta. Olha pro céu como quem pergunta "Será que chove?". Coloca o celular silencioso no bolso e vai embora. Levando com ele os delírios de 30 segundos deste poeta admirador da beleza reta de um homem...