domingo, 25 de setembro de 2011

O pecado da preguiça

Queria dizer que estou com uma vontade embriagante de limpar todo o quarto, de jogar fora todos os papéis, de me desfazer de algumas cartas de amor, de jogar fora algumas tralhas e outras lembranças de gente que ficou e que passou em minha vida. Queria muito, pegar as todas as roupas sujas e botá-las na máquina, de fazer uma comidinha gostosa e de chamar os amigos para rirmos e conversarmos em volta de uma mesa com alguns vinhos e muitas risadas. Queria escrever cartas aos meus familiares contando dos momentos felizes e das horas tristes que tenho passado nesta cidade, assim como, queria mandar recados aos queridos amigos que foram ficando ou mudando da minha cidade natal, ou da cidade por onde vivi parte dessa minha chamada "carreira estudante". Queria muito contar para as pessoas que gosto, o porquê que elas me são tão caras e tão importantes. Queria poder narrar aos queridos e aos detestáveis porque as coisas que penso deles me assolam em alguns dias e como tudo pode ser modificado. Queria poder explicar sobre o maravilhoso milagre de compreender que tudo é provisório e, que de repente, me deparo com cenas que não viverei novamente e aceito ou recuso alguém em minha vida. Juro que não me falta vontade de contar ao mundo as coisas que penso. Mas estou tomado pelo pecado da preguiça, invadido pela vontade de estar inerte, entre livros e textos, descobrindo mundo sozinho e sem me dividir com ninguém...Estou preguiçoso para me dividir com os outros. A primavera começou e estou ainda hibernando...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O pecado no espelho

De repente, o encaro no espelho. Eu e o duplo não somos a mesma criatura. Eu tenho olhos castanhos. Meu duplo tem os olhos cor de café. Somos muito diferentes e vemos dois mundos completamente diferentes. Eu e o duplo temos traços inversos. Eu tenho o rosto quadrado, já o duplo tem o rosto com várias angulações de 90º. Eu e o duplo não somos nada parecidos. Ele tem o rosto duro e o meu fica doce no momento em que falo. Eu e o duplo não somos nada parecidos. Meus lábios são grossos e o duplo tem lábios que parecem ser saborosos, pois são avolumados. Nada parecidos. O que ele fala, eu repito. Porque somos extremamente diferentes. Eu e o duplo nunca nos gostamos. Trocamos nossos olhares, mas somos diferentes como o Sol e uma estrela. Emitimos luz. Diferentes. O Sol também é uma estrela, mas não é igual...assim como o eu e o duplo são diferentes. O eu acredita em sonhos e contos de fada, o duplo, nunca existiu entre nós...língua afiada e perigosa essa do duplo...ele conta mentiras para mim e eu? Eu as escrevo...

sábado, 17 de setembro de 2011

O pecado púrpura

Não se sinta culpado quando o céu estiver azul. Nem acredite que as coisas deveriam estar em outro lugar ou que os planetas estão desalinhados. Não entenda que se Mercúrio está retrógrado isso seja um mal sinal. Acredite. Realize novas possibilidades. Encontre seus pecados favoritos. Não tenha medo de ser muito. E nem acredite que pouco pode ser inútil. Sempre existe uma medida exata. Não erramos. Podemos apenas não estar prontos ou acreditar que falta algo para completar as palavras cruzadas. Cruzadas. Não levante forcas e nem ameace o bem estar que você demorou tanto para conseguir. Aprenda que os sorrisos não devem ficar nas gavetas. Nelas devemos guardar roupas, antigas cartas, uma aliança que já desbotou. Devemos jogar fora os sentidos. Os amores mal resolvidos, os sonhos que não foram conquistados. Devemos guardar os sinais de ótimas oportunidades, de desejos que ainda temos. Os ressentimentos deixam a pele seca, deixar as pontas dos dedos enrugadas. Tire as mãos da água benta. Tire as mãos da frente das bocas. Os sorrisos são o início dos pecados. Milagres não existem sem lágrimas. Então rir e chorar são expressões de impressões. Não existe um não viver...existe um não querer...escolha seu pecado...hora de exercer o ser de cada um...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O pecado do isolamento

"Nenhum homem é uma ilha". John Donne (1572-1631)

Mas temos os nossos territórios. Os silêncios que não partilhamos. As palavras que não envolvemos e nem desenvolvemos. Somos gotas, somos lágrimas e tudo mais que for liquefeito. Realmente, não somos uma ilha. Somos quem sabe uma fagulha. Há dias em que brilhamos sós e, às vezes, nem diante do espelho teremos o calor ou o brilho necessário para fazer diferença. Então nos recolhemos, nos recompomos, nos lapidamos. Ser só é algo inerente ao ser humano. Não somos uma ilha. Mas ninguém nos conhece. Os que nos veem, enxergar apenas as delimitações sociais que são impostas. Não somos tudo que veem. Estamos lá. Por isso nos chamam daquilo. Daquilo tudo. Somos aquilo que se pode ser em diversos momentos. Mas apenas aquilo que se pode. Aquilo que se quer.
Há dias em que brilhamos estrelas frias, meio para dentro de nós. Buracos-negros de sonhos imperfeitos. Somos aquilo que está debaixo da cama, que esquecemos dentro de um livro. Uma das flores que nunca mandamos. Há dias em que o isolamento se faz necessário para se perceber as testemunhas, os álibis de nossos sonhos e ideais.
Simplesmente há dias. Em que não há um rastilho de pólvora. Então, como fagulhas, brilhamos sós.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Isso é um pecado!

"Pensar e escrever são atos musculares: sístole e diástole de mim. Tum (quero) Tum (escrevo) Tum (não quero) Tum (apago)" [Samilo Takara]

domingo, 4 de setembro de 2011

O pecado da pretensão

Ser é um pouco mais do que se espera. Isso pode ser pretensão? Não sei. Ou sei, mas quero ser pretensioso ao ponto de acreditar que nada pode ser algo que realmente vemos, mas apenas algo sentido. Sem sentido, com toda intenção. Intenso. O que é ser alguém inesquecível? Eu sei que marcar a vida de uma pessoa pode ser muito dolorido e doloroso. Somos assim. Doloridos, dolorosos. Cheios de dores e chagas que são armaduras e armadilhas em dias de céu aberto. Somos pretensiosos no momento em que queremos mais. Somos pecadores natos. Nascemos exercendo o pecado de vir-a-ser. Devir. Dever. Devemos acreditar que poder passa nosso entendimento. Meu manto de palha me faz ver. Me faz enxergar o mundo por entre as serragens? Que somos nós, se não heróis quixotescos. O que somos se não arlequins, columbinas e pierrots. Todos e ao mesmo tempo apenas uma máscara nos protege. A pretensão de ser pecador. O pecado de ser pretensioso. O que nós sabemos? Tão pouco e tanto, que não contamos os grãos de areia e as pedras de cada lugar. O mar. Somos esse infame ato de pecar. Pretensão.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O pecado da Estrela Dalva

Uma chama de vela. Uma moça de longo véu branco está ajoelhada e chorando. Ela está agradecendo. Por que tanto fervor? Porque acreditar é uma dádiva. Ela não está agradecendo uma cura milagrosa, ou o nascimento difícil de um primeiro filho que ela não tem. Ela está agradecendo pelo poder de ter fé. Com um crucifixo de ouro e uma estrela de prata, ela fervorosamente brilha, mais que a vela, iluminando todo o saguão onde fica o altar que ela imaginou.
O que existe? Existe a fé. A fé nela mesma. A fé de que os tempos serão melhores, que as estrelas estão todas no firmamento e que belamente brilham para que se possa pedir, suplicar, implorar, admirar e gritar para elas. Elas estão todas lá e a menina ainda está aqui embaixo a olhá-las:

"Primeira estrela que vejo,
estrela mais brilhante,
realiza meu desejo
que peço neste instante.
(Faça um pedido)"

Pedir. O que? Fé em si. O bastante para poder mover o mundo. Não mais, porque a arrogância pode ser um tiro no pé. Nem menos, porque isso faz de você alguém talvez parecido com o ridículo poeta que está agora, desenfreadamente digitando e procurando em um céu estrelado, ver alguma estrela, que não esteja imersa nas nuvens de tristezas que ele mesmo cultivou.
É setembro. E de repente, os sustos podem ser bons. E são.
Lá, no meio das nuvens de chumbo, a Dalva brilha gloriosa, oferecendo aos filhos de anjos e demônios o poder de ter fé em um dia melhor.
Findando-se o Inverno, a Mãe logo volta. Por enquanto, ter fé e uma estrela já resolve tanta coisa.