sábado, 27 de agosto de 2011

O pecado de mudar

Olhei no espelho e pensei que deveria cortar novamente os cabelos, talvez colocar lentes de contato, fazer uma limpeza de pele, passar por um dermatologista, um ortodontista e outros profissionais que são capazes de fazer uma pessoa mudar tudo que é visível nela.
De repente me peguei pensando que devia tentar a terapia, afinal, já que estou interessado em repaginar deveria fazer um "combo". Deveria pensar no todo, alterar tudo e o que fosse mais possível. Possível. É isso. As possibilidades estão todas dispostas, as cartas, há muito, estão na mesa. "-Sempre sai a Sacerdotisa e agora, que faço?". Altero o jogo, mudo as cartas, as vontades, os medos e os quereres de tudo que faço. De repente rememoro, releio, repenso. Não é a carta que muda o jogo, e sim seu significado.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O chamado pecado

Pecar pode ser simplesmente existir. Pode ser não estar de acordo. Não fazer o que é imposto, o que está nas normas sociais, nas regras para brincar de sociedade. E nos pegamos pecando em pequenos gestos, em grandes detalhes mal organizados. Nos riscos de uma página, em palavras mal organizadas para construir uma frase. Pecar pode ser enfrentar seus próprios demônios, sejam eles internos ou externos. Está no ato de decidir se você abraça seus desejos ou se os afasta para não correr o risco de viver. Exercer o pecado está em chorar nas derrotas, em rir e comemorar as vitórias, em fazer amigos, em criar inimizades, em pensar sobre um assunto ou não pensar em nada. O pecado está até mesmo no amar das pessoas. Talvez o verbo amar seja o que cria o pecado. Amamos ou odiamos os indivíduos que partilham a convivência conosco pelas oportunidades que esse "outro" nos mostra. E ao vermos, acabou. Simplesmente ao enxergarmos o detalhe do viver: exercemos o temido ato de pecar. O pecado tornou-se algo comprável, vendível, disponível nas lojas, nas academias, na televisão, na internet, nas teorias e em sua subjetividade. Ser pecador é estar de acordo que todo contrato pode e será quebrado em algum momento, sobrando para as partes as responsabilidades sobre esse erro/acerto cometido. Isso é uma possibilidade de definir o pecado. Mas, quem disse que ao defini-lo nós temos certeza do que essa ação de pecar realmente representa? O pecar está no simples ato da existência. Até para respirar existe um pecado. Repare: (inspiração - expiração) e nesse momento cometemos o pecado de acreditar e desacreditar das coisas. Nesse momento, estamos pecando por vermos uma pílula - que pode ser apenas um placebo - que adocica nossos pecados.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O pecado da dúvida

Penso em dizer. Não sei se devo. E se digo, acabo me tornando aquilo que digo, para poder dizer aquilo que penso. Se não quero, acabo não dizendo, ou agradecendo, seja por bem, seja por mal. Se sonho, sonho pouco, meio mal sonhado. E querer já se torna a medida exata para deixar de lado o alvo de tal desejo. Não sei se fico ou se passo. Sei que os portos estão todos fechados e meu barco já não tem ancoradouro. Estou eu cá a deriva, esperando, esperando, esperando. Às vezes acho que fazer pode ser perigoso. Um gesto, um ato, uma decisão. Mas eu falo. Sempre falo. Às vezes falo como quem aconselha, por outras falo como quem implora. E devo fazer isso? Devo aceitar todas as variações? As cores estão dispostas e as cartas estão na mesa. Será que se resolve tudo assim falando. Já não sei se o querer deve ser a medida exata. Porque se fosse, teríamos bolos só de recheio, teríamos semanas só de fins de semana e teríamos coisas eternas e outras tão efêmeras quando ir até o mercado. Somos. Vivemos. Queremos.

"Acho que não sei quem sou.
Ferida leve, tiro de canhão.
Simpatia ou apatia.
Não dá para saber quem sou"

O pecado só é fazer aquilo que se quer. Não esperando nada em troca e tendo consciência de que podemos, queremos e modificamos o mundo e seus portos. Às vezes, a tormenta está apenas nos olhos dos navegantes.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O pecado de conhecer

Era uma tarde chuvosa. Simplesmente era. Não havia muito o que fazer. Houve tanta coisa aquele dia, que mesmo que eu quisesse seria difícil dizer que tinha visto. E posso dizer que meu coração não tinha feito o tal do "clique". E, de repente, não sei se eu ou o que eu chamo de meu "outro em mim" olhou-me no espelho e disse: "Olha ali!" E de repente, eram vidros, gelos e bebidas fortes. E de repente eram palavras, conversas, um beijo de leve e de repente...só a música vibrava...e só os sorrisos já eram confortantes e, hoje, me pego aqui...pensando...que na primeira vez...




domingo, 21 de agosto de 2011

Um pecado de céu nublado

Hoje o dia passou à meia luz. Momentos de reflexão, de contemplação de reviver de se compreender. O tempo parece mais bonito. A primavera logo se anunciará. E o que vai acontecer? Não estou mais buscando respostas. Ouvi esses dias: nós buscamos perguntas. E buscamos, queremos sempre nos indagar, interrogar o mundo. No terreno do hoje não quero mais interrogações. O que busco hoje é o exato estado contemplativo: o estado do conhecer. Começamos agora: e o que acontecerá? Vamos ver...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O pecado de desistir

Simplesmente fica insuportável. Simplesmente não há mais o que fazer nem para onde correr. Dá vontade de simplesmente esquecer de tudo que foi dito. De tudo que foi silenciado para uma boa convivência. De repente, ou mesmo devagar percebemos que não dá. Intragável. Sem perspectiva. E chega a hora de deixar. Deixar o rio fluir, deixar o tempo passar. Deixar o dia virar tudo e da maneira que deve acontecer. Largar a mão. Soltar as rédeas. Deixar o indomável do dia galopar pelos campos do tempo e do espaço. Quebrar porteiras, rasgar vestes. Simplesmente deixar. Já dá para sentir o gosto de choro na garganta. Acabou. Está tudo acabado. E mesmo querendo, sempre tem a hora de jogar a toalha. De desistir antes que tudo vire ranço, vire fraqueza, estrague os dentes e os dias com poucas nuvens. O céu volta a nublar. Realmente temos pouco a decidir em dias nublados. Mas temos muito a contemplar. Há momentos, que a única coisa que podemos oferecer é solidão com vista para o mar. E se não há para onde ir, qualquer caminho é um caminho. Good luck...

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O pecado da culpa

Culpar-se. Julgar-se. Definir-se. Quem ser ou ou que fazer consigo. Talvez, um dos pecados mais cometidos por mim seja o pecado de culpar. Às vezes, essa culpa parece tão irrisória que é mais fácil deixá-la no rosto do outro. Deixar que o outro mostre os pecados como suas oportunidades. E, em outros momentos, talvez menos complicados e muito mais doloridos. Talvez a culpa faça-se presente para que tenhamos um álibi. Ter culpa é normal. Sempre nos culpamos por atos e fatos que acontecem nos nossos dias. Agora colocá-los nas costas e achar que viramos Atlas por esse motivo? Acho um pouco de arrogância. Estou tentando me desfazer desta arrogância. Não enquanto pecado, porque o pecado de ser arrogante é totalmente diferente do pecado da culpa. Culpar-se é pretensioso. Para alguns até destemidamente assustador perceber-se por vezes, até mais limpo de erros do que acreditava ser. Simplesmente, pretensão. Pecados. Qual de nós não temos? Entretanto, ter todos, é uma boa de uma petulância...

sábado, 6 de agosto de 2011

O pecado de mentir

Encontro-me de olhos abertos. E a claridade da manhã me incomoda. Digo bom dia, mas gostaria de dizer que prefiro continuar a dormir. Levanto, vou ao banheiro. Penso em você. Sim, em você que lê este texto e penso no quanto você pode me achar ridículo por falar sobre os pecados como as possibilidades de se viver. No como o meu crer de que "o pecado é apenas aquilo que consideramos errado" e fico enauseado com a ideia de você concordar com tudo isso. E digo a mim mesmo que as pessoas me gostam. Vou ao espelho. Encaro o grotesco ser que vive dentro. Encaro a grotesca casca que vive fora e penso que o cabelo ficou torto, que os olhos são muito fechados, que a boca é muito aberta. E digo, a mim mesmo, nossa, como acordei bem.
Vou aos meus afazeres. Odiando o fato de que não consegui ainda chegar a conclusões. Sabendo que não as quero, mas que preciso delas, me acho ignorante a ponto de querer desistir de tudo. E penso. Hoje estou otimista!
Detalhes mal feitos. Detalhes desses como rabiscos em papel. Nós temos sempre a ideia de que poderemos nos melhorar. Mas nem sabemos o que somos. Sempre achamos que algo está horrível. Sem repararmos que tudo pode ser nosso. Que só nós podemos ter tudo que temos. Lembro de uma querida amiga que sempre comentava... "Minha sobrancelha esquerda está horrível. Mas a direita é perfeita. As duas nunca ficarão iguais. Acontece." É da vida. É do mundo.
Entretanto, gosto do desafio de acreditar que mentir seja a melhor opção. Talvez não seja. Mentir é muito humano. Jogar é muito humano. Mas só nós, humanos, podemos lidar com a sagrada culpa dos profanos pecados.

O pecado do mausoléu

Nosso território. Nossas delimitações. Nossa tumba. É assim o nosso espaço. É em nossa casa que acendemos velas aos nossos mortos, é nela que pensamos e que refletimos sobre o tempo em um só tempo e os espaços que percorremos no período em que não estamos em nosso território. A importância dele está exatamente na sua existência. No nosso querer. Não é necessário ficar. Ficar é querer permanecer. Mas é necessário não nos esquecermos. Termos casa. Termos túmulo. É difícil pensar no mundo se nosso mundo não está constituído. Nada pode ultrapassar nossas margens. Não sem nossa permissão. E nós? Podemos sair de nosso território sem nos permitirmos? Medo. Angústia. Ansiedade. Curiosidade. Efeitos. Grandes feitos. O território tem sempre portas. Quais são as chaves? É em uma delas que se encontra o segredo do pecado.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O pecado do luto

Há quase quatro semanas, brutalmente me coloquei em luto. Sim. Sofrer é parte do fim de tudo. Se algo acaba é necessário que sintamos a dor de ter perdido coisas boas. E quanto melhores foram os momentos, mais doloridos devem ser os choros. Nasci assim, boca aberta, exagerado. Entretanto, há uma semana estou digerindo a cena de uma dessas novelas globais. A cena em que a amada se encontra em um balão com amigo e filho, deixando para trás tudo que viveu. Me senti no lugar dela. Tendo que ir, tendo que viver e tendo que aproveitar ao sabor e saber do vento uma vida que está aí, para ser vivida.
Depois disso, fui em busca da cena do amante, ali, em terra firme e pernas bambas vendo a amada partir e me pus ali, no lugar dele, sentindo a dor de ter entregue o bonito de mim e ter que deixar partir. E então, a frase dramática que sempre gostei. A avó da heroína sorri ao moço, e diz: "-Se ocê gosta mesmo dela, pede pro vento. Só o vento pode trazer ela de volta". E ele pediu, assim meio tímido, ele e eu fomos pensando em tudo de bom que aconteceu. Foram meses para mim. Para ele também, porque as novelas globais tem seus términos também. Pensei nas datas comemorativas, nas discussões acaloradas, nos erros e acertos que cometemos. Pensei no quanto ele foi exímio e no quanto eu fui perfeito. Nada divino, apenas fizemos o possível. Tudo que poderia ser feito. Porque ele não podia mais. Porque eu não podia mais. Porque havíamos chegado na encruzilhada e era hora de soltar as mãos. Soltamos. Soltei.
Chorei como criança ao perceber que não pedi ele de volta para o vento. Não podia. Não há mais o que ser feito ou vivido. Apenas as boas recordações, as lembranças e as caixas de bombons ficaram. Sempre ficam. As pessoas não saem da nossa vida, apenas vão perdendo o foco, ficando menos nítidas. O dia a dia tomou conta da minha vida. E estou carregando este texto comigo há duas semanas. Vê-lo me faz bem. Percebo que pela primeira vez, gostei de alguém sem ter que pressioná-lo a se colocar no papel ideal. Que consegui mostrar o mais importante de mim e que percebi que o que eu posso oferecer e o que ele pode não estão nos mesmos níveis, nas mesmas fases.
O jogo continua e haverá outros parceiros de fase, monstros a vencer e chefes de jogo para ganhar. Ninguém sai da nossa companhia se não dermos adeus. "- Adeus".