segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O pecado de Martha Medeiros

Strip-Tease*

Chegou no apartamento dele por volta das seis da tarde e sentia um nervosismo fora do comum. Antes de entrar, pensou mais uma vez no que estava por fazer. Seria sua primeira vez. Já havia roído as unhas de ambas as mãos. Não podia mais voltar atrás. Tocou a campainha e ele, ansioso do outro lado da porta, não levou mais do que dois segundos para atender.

Ele perguntou se ela queria beber alguma coisa, ela não quis. Ele perguntou se ela queria sentar, ela recusou. Ele perguntou o que poderia fazer por ela. A resposta: sem preliminares. Quero que você me escute, simplesmente.
Então ela começou a se despir como nunca havia feito antes.

Primeiro tirou a máscara: "Eu tenho feito de conta que você não me interessa muito, mas não é verdade. Você é a pessoa mais especial que já conheci. Não por ser bonito ou por pensar como eu sobre tantas coisas, mas por algo maior e mais profundo do que aparência e afinidade. Ser correspondida é o que menos me importa no momento: preciso dizer o que sinto".

Então ela desfez-se da arrogância: "Nem sei com que pernas cheguei até sua casa, achei que não teria coragem. Mas agora que estou aqui, preciso que você saiba que cada música que toca é com você que ouço, cada palavra que leio é com você que reparto, cada deslumbramento que tenho é com você que sinto. Você está entranhado no que sou, virou parte da minha história."

Era o pudor sendo desabotoado: "Eu beijo espelhos, abraço almofadas, faço carinho em mim mesma tendo você no pensamento, e mesmo quando as coisas que faço são menos importantes, como ler uma revista ou lavar uma meia, é em sua companhia que estou".

Retirava o medo: "Eu não sou melhor ou pior do que ninguém, sou apenas alguém que está aprendendo a lidar com o amor, sinto que ele existe, sinto que é forte e sinto que é aquilo que todos procuram. Encontrei".

Por fim, a última peça caía, deixando-a nua
"Eu gostaria de viver com você, mas não foi por isso que vim. A intenção é unicamente deixá-lo saber que é amado e deixá-lo pensar a respeito, que amor não é coisa que se retribua de imediato, apenas para ser gentil. Se um dia eu for amada do mesmo modo por você, me avise que eu volto, e a gente recomeça de onde parou, paramos aqui".

E saiu do apartamento sentindo-se mais mulher do que nunca.

(*Martha Medeiros)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O pecado de um término

Ele me disse:

"Mas a verdade é que ainda não quero me prender a nada, a nenhum lugar, a ninguém" (Caio Fernando Abreu).

E eu disse:

"— Não, gurizinho. Quando a gente gosta mesmo duma pessoa, a gente faz essas coisas" (Caio Fernando Abreu.

Então, ele respondeu:

"Confesso que preciso de sorrisos, abraços, chocolates, bons filmes, paciência e coisas desse tipo" (Caio Fernando Abreu)

E eu, só pude responder:

"Não posso esperar. Tenho tudo pronto dentro de mim e uma alma que só sabe viver presentes. Sem esperas, sem amarras, sem receios" (Caio Fernando Abreu)

E, então, ele se foi...

Vieram choros, vieram velas e alguns contos de fada com príncipes, masmorras e princesas...e então...me descubro agora, já não mais tão empolgado com a ideia de que tudo isso seja saudável.

Ele já não lê mais o que eu escrevo, mesmo estando algumas janelas daqui...

domingo, 16 de outubro de 2011

Um pecado em gotas

Diluído na bebida azul, ali estava meu pecado mais feio, mais trêmulo, mais estranho. A beberagem veio pronta, sem riscos de ervas ou efeitos posteriores. Parecia liberdade, mas não estávamos em uma narrativa fílmica. Muito vermelho corria pelo salão, alguns rosas cintilavam. Haviam luzes e um branco descomunal, mas não estava tudo bem. Mergulhei nesses mililitros de azul quando percebi que já não estou disponível a coisas de menino. Estou meio emburrado com a vida. Peguei a bola e fui pra casa. Não estou afim de brincar...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O pecado do preço

Queremos tanto. Queremos tudo. E chega um momento que não sabemos mais o valor das coisas. Dá um medo de abrir o peito. Olhamos a janela iluminada e pensamos: "-Quem será que está a admirar o que nós queremos ver?". E o que queremos ver? Ninguém sabe. Sonhamos tanto. Lutamos todos os dias para conseguir vencer as metas, os prazos, para entregar as coisas na data. Queremos novos sorrisos, queremos outras chances. Encontrar o amor ideal. O emprego perfeito. O que fazer para emprestar a vida para o resto da vida. Sonhamos. Sonhamos demais e com tudo. Acho que ensinam-nos muito mal. Nos mimam com a ideia de que tudo pode melhorar que sempre existe um "felizes para sempre" no fim das histórias. E será que existe fim? E será que existe ser feliz? Há muito fui desacreditando de alguns detalhes desses contos de fadas. Hoje, talvez amanhã também, eu ainda acredite que não há princesas, príncipes e torres. Na verdade, ainda não sei se desci delas...das belas torres de mármore. E aí me pergunto: Será que um dia eu já subi nelas? Lembro-me de um filme, desses do cenário brasileiro, que tinha uma cena emblemática...Pais conversavam...o homem dizia que não sabia o que havia acontecido com os sonhos deles. Ela responde: "Sonhos? Eu tive que viver acordada para criar esses meninos"...Quero muito acreditar que vivi acordado. Nem que esse meu acordado seja apenas uma sensação desse sonho que sonho a tanto tempo... Chega horas como essa...que você se pergunta se vale a pena...a que preço a busca da felicidade? Ninguém sabe, mas qualquer um pagaria...

domingo, 9 de outubro de 2011

O pecado da miragem

As luzes eram das mais diferentes cores. Os gestos, os rostos, os corpos, tudo vibrava em mesma sintonia. Todos dançavam consigo e com outros vistos, não vistos e revistos em sonhos de noites de sábado. Era uma sensação de que se pode estar sempre com todos e sozinho. É ali que o indivíduo se vê e vê tantos outros eus com outros olhares, rostos e corpos...
Foi num momento de descuido que as luzes pararam. Os corpos se movimentavam mais lentamente e me deparei com aqueles olhos. Olhos como tempestades castanhas que profundamente tragavam os passantes. Eram olhos tão intensos que me deixou extremamente embriagado. Nem o vinho, nem as cores, nem a música faziam tanto efeito quanto aqueles olhos. Eram miragens em um deserto de pessoas que não apresentavam tanto.
Uma miragem que se movimentava ao som de uma música própria. À meia-luz trazia silhuetas do corpo aos meus olhos, embevecidos...
Uma vontade de mergulhar naqueles olhos, de conhecer aquela boca, de me perder nos traços e gestos...vontades...

E, de repente, parece que os contos de fadas são tão reais perto daquele olhar...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O pecado da ladeira

É pra subir. E pra subir tentamos tanta coisa. Queremos nos importar mais, queremos nos importar menos. Nos entregamos a tudo que nos é conveniente ou ilusório o bastante para dar a sensação de mudança. Ser nunca mudou o tornar-se, mas alterou-se para onde se vai. Por vezes parece tanto, por vezes parece tão pouco, e nem sabemos se vai dar certo. As vontades são todas saciadas por estranhas carências e carismas práticos ou mecânicos. Dar um jeito. Esse se tornou o lema da vida em uma condição pós-moderna. Já não sei se esse estilo de vida tem haver com o que se pensa que ele é. Tenho a impressão que não conseguimos mais coordenar sensações, gestos, pessoas e cores nos mesmos lugares. Os muitos me incomodam. E, às vezes, incomodam até demais. São tantos deslizes, tantas vontades, tão pouco tempo para se resolver grandes coisas. A vida não para e vamos criando medos, vamos criando vícios em horários e prazos. E o sujeito? Onde nós estamos nisso tudo? Entremeados de laços e fitas? Como memorou um amigo, somos mesmo marionetes. A pergunta é se realmente eu sei onde estão as cordas, ou se já perdi as contas de suas coordenadas.

domingo, 25 de setembro de 2011

O pecado da preguiça

Queria dizer que estou com uma vontade embriagante de limpar todo o quarto, de jogar fora todos os papéis, de me desfazer de algumas cartas de amor, de jogar fora algumas tralhas e outras lembranças de gente que ficou e que passou em minha vida. Queria muito, pegar as todas as roupas sujas e botá-las na máquina, de fazer uma comidinha gostosa e de chamar os amigos para rirmos e conversarmos em volta de uma mesa com alguns vinhos e muitas risadas. Queria escrever cartas aos meus familiares contando dos momentos felizes e das horas tristes que tenho passado nesta cidade, assim como, queria mandar recados aos queridos amigos que foram ficando ou mudando da minha cidade natal, ou da cidade por onde vivi parte dessa minha chamada "carreira estudante". Queria muito contar para as pessoas que gosto, o porquê que elas me são tão caras e tão importantes. Queria poder narrar aos queridos e aos detestáveis porque as coisas que penso deles me assolam em alguns dias e como tudo pode ser modificado. Queria poder explicar sobre o maravilhoso milagre de compreender que tudo é provisório e, que de repente, me deparo com cenas que não viverei novamente e aceito ou recuso alguém em minha vida. Juro que não me falta vontade de contar ao mundo as coisas que penso. Mas estou tomado pelo pecado da preguiça, invadido pela vontade de estar inerte, entre livros e textos, descobrindo mundo sozinho e sem me dividir com ninguém...Estou preguiçoso para me dividir com os outros. A primavera começou e estou ainda hibernando...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O pecado no espelho

De repente, o encaro no espelho. Eu e o duplo não somos a mesma criatura. Eu tenho olhos castanhos. Meu duplo tem os olhos cor de café. Somos muito diferentes e vemos dois mundos completamente diferentes. Eu e o duplo temos traços inversos. Eu tenho o rosto quadrado, já o duplo tem o rosto com várias angulações de 90º. Eu e o duplo não somos nada parecidos. Ele tem o rosto duro e o meu fica doce no momento em que falo. Eu e o duplo não somos nada parecidos. Meus lábios são grossos e o duplo tem lábios que parecem ser saborosos, pois são avolumados. Nada parecidos. O que ele fala, eu repito. Porque somos extremamente diferentes. Eu e o duplo nunca nos gostamos. Trocamos nossos olhares, mas somos diferentes como o Sol e uma estrela. Emitimos luz. Diferentes. O Sol também é uma estrela, mas não é igual...assim como o eu e o duplo são diferentes. O eu acredita em sonhos e contos de fada, o duplo, nunca existiu entre nós...língua afiada e perigosa essa do duplo...ele conta mentiras para mim e eu? Eu as escrevo...

sábado, 17 de setembro de 2011

O pecado púrpura

Não se sinta culpado quando o céu estiver azul. Nem acredite que as coisas deveriam estar em outro lugar ou que os planetas estão desalinhados. Não entenda que se Mercúrio está retrógrado isso seja um mal sinal. Acredite. Realize novas possibilidades. Encontre seus pecados favoritos. Não tenha medo de ser muito. E nem acredite que pouco pode ser inútil. Sempre existe uma medida exata. Não erramos. Podemos apenas não estar prontos ou acreditar que falta algo para completar as palavras cruzadas. Cruzadas. Não levante forcas e nem ameace o bem estar que você demorou tanto para conseguir. Aprenda que os sorrisos não devem ficar nas gavetas. Nelas devemos guardar roupas, antigas cartas, uma aliança que já desbotou. Devemos jogar fora os sentidos. Os amores mal resolvidos, os sonhos que não foram conquistados. Devemos guardar os sinais de ótimas oportunidades, de desejos que ainda temos. Os ressentimentos deixam a pele seca, deixar as pontas dos dedos enrugadas. Tire as mãos da água benta. Tire as mãos da frente das bocas. Os sorrisos são o início dos pecados. Milagres não existem sem lágrimas. Então rir e chorar são expressões de impressões. Não existe um não viver...existe um não querer...escolha seu pecado...hora de exercer o ser de cada um...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O pecado do isolamento

"Nenhum homem é uma ilha". John Donne (1572-1631)

Mas temos os nossos territórios. Os silêncios que não partilhamos. As palavras que não envolvemos e nem desenvolvemos. Somos gotas, somos lágrimas e tudo mais que for liquefeito. Realmente, não somos uma ilha. Somos quem sabe uma fagulha. Há dias em que brilhamos sós e, às vezes, nem diante do espelho teremos o calor ou o brilho necessário para fazer diferença. Então nos recolhemos, nos recompomos, nos lapidamos. Ser só é algo inerente ao ser humano. Não somos uma ilha. Mas ninguém nos conhece. Os que nos veem, enxergar apenas as delimitações sociais que são impostas. Não somos tudo que veem. Estamos lá. Por isso nos chamam daquilo. Daquilo tudo. Somos aquilo que se pode ser em diversos momentos. Mas apenas aquilo que se pode. Aquilo que se quer.
Há dias em que brilhamos estrelas frias, meio para dentro de nós. Buracos-negros de sonhos imperfeitos. Somos aquilo que está debaixo da cama, que esquecemos dentro de um livro. Uma das flores que nunca mandamos. Há dias em que o isolamento se faz necessário para se perceber as testemunhas, os álibis de nossos sonhos e ideais.
Simplesmente há dias. Em que não há um rastilho de pólvora. Então, como fagulhas, brilhamos sós.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Isso é um pecado!

"Pensar e escrever são atos musculares: sístole e diástole de mim. Tum (quero) Tum (escrevo) Tum (não quero) Tum (apago)" [Samilo Takara]

domingo, 4 de setembro de 2011

O pecado da pretensão

Ser é um pouco mais do que se espera. Isso pode ser pretensão? Não sei. Ou sei, mas quero ser pretensioso ao ponto de acreditar que nada pode ser algo que realmente vemos, mas apenas algo sentido. Sem sentido, com toda intenção. Intenso. O que é ser alguém inesquecível? Eu sei que marcar a vida de uma pessoa pode ser muito dolorido e doloroso. Somos assim. Doloridos, dolorosos. Cheios de dores e chagas que são armaduras e armadilhas em dias de céu aberto. Somos pretensiosos no momento em que queremos mais. Somos pecadores natos. Nascemos exercendo o pecado de vir-a-ser. Devir. Dever. Devemos acreditar que poder passa nosso entendimento. Meu manto de palha me faz ver. Me faz enxergar o mundo por entre as serragens? Que somos nós, se não heróis quixotescos. O que somos se não arlequins, columbinas e pierrots. Todos e ao mesmo tempo apenas uma máscara nos protege. A pretensão de ser pecador. O pecado de ser pretensioso. O que nós sabemos? Tão pouco e tanto, que não contamos os grãos de areia e as pedras de cada lugar. O mar. Somos esse infame ato de pecar. Pretensão.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O pecado da Estrela Dalva

Uma chama de vela. Uma moça de longo véu branco está ajoelhada e chorando. Ela está agradecendo. Por que tanto fervor? Porque acreditar é uma dádiva. Ela não está agradecendo uma cura milagrosa, ou o nascimento difícil de um primeiro filho que ela não tem. Ela está agradecendo pelo poder de ter fé. Com um crucifixo de ouro e uma estrela de prata, ela fervorosamente brilha, mais que a vela, iluminando todo o saguão onde fica o altar que ela imaginou.
O que existe? Existe a fé. A fé nela mesma. A fé de que os tempos serão melhores, que as estrelas estão todas no firmamento e que belamente brilham para que se possa pedir, suplicar, implorar, admirar e gritar para elas. Elas estão todas lá e a menina ainda está aqui embaixo a olhá-las:

"Primeira estrela que vejo,
estrela mais brilhante,
realiza meu desejo
que peço neste instante.
(Faça um pedido)"

Pedir. O que? Fé em si. O bastante para poder mover o mundo. Não mais, porque a arrogância pode ser um tiro no pé. Nem menos, porque isso faz de você alguém talvez parecido com o ridículo poeta que está agora, desenfreadamente digitando e procurando em um céu estrelado, ver alguma estrela, que não esteja imersa nas nuvens de tristezas que ele mesmo cultivou.
É setembro. E de repente, os sustos podem ser bons. E são.
Lá, no meio das nuvens de chumbo, a Dalva brilha gloriosa, oferecendo aos filhos de anjos e demônios o poder de ter fé em um dia melhor.
Findando-se o Inverno, a Mãe logo volta. Por enquanto, ter fé e uma estrela já resolve tanta coisa.

sábado, 27 de agosto de 2011

O pecado de mudar

Olhei no espelho e pensei que deveria cortar novamente os cabelos, talvez colocar lentes de contato, fazer uma limpeza de pele, passar por um dermatologista, um ortodontista e outros profissionais que são capazes de fazer uma pessoa mudar tudo que é visível nela.
De repente me peguei pensando que devia tentar a terapia, afinal, já que estou interessado em repaginar deveria fazer um "combo". Deveria pensar no todo, alterar tudo e o que fosse mais possível. Possível. É isso. As possibilidades estão todas dispostas, as cartas, há muito, estão na mesa. "-Sempre sai a Sacerdotisa e agora, que faço?". Altero o jogo, mudo as cartas, as vontades, os medos e os quereres de tudo que faço. De repente rememoro, releio, repenso. Não é a carta que muda o jogo, e sim seu significado.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O chamado pecado

Pecar pode ser simplesmente existir. Pode ser não estar de acordo. Não fazer o que é imposto, o que está nas normas sociais, nas regras para brincar de sociedade. E nos pegamos pecando em pequenos gestos, em grandes detalhes mal organizados. Nos riscos de uma página, em palavras mal organizadas para construir uma frase. Pecar pode ser enfrentar seus próprios demônios, sejam eles internos ou externos. Está no ato de decidir se você abraça seus desejos ou se os afasta para não correr o risco de viver. Exercer o pecado está em chorar nas derrotas, em rir e comemorar as vitórias, em fazer amigos, em criar inimizades, em pensar sobre um assunto ou não pensar em nada. O pecado está até mesmo no amar das pessoas. Talvez o verbo amar seja o que cria o pecado. Amamos ou odiamos os indivíduos que partilham a convivência conosco pelas oportunidades que esse "outro" nos mostra. E ao vermos, acabou. Simplesmente ao enxergarmos o detalhe do viver: exercemos o temido ato de pecar. O pecado tornou-se algo comprável, vendível, disponível nas lojas, nas academias, na televisão, na internet, nas teorias e em sua subjetividade. Ser pecador é estar de acordo que todo contrato pode e será quebrado em algum momento, sobrando para as partes as responsabilidades sobre esse erro/acerto cometido. Isso é uma possibilidade de definir o pecado. Mas, quem disse que ao defini-lo nós temos certeza do que essa ação de pecar realmente representa? O pecar está no simples ato da existência. Até para respirar existe um pecado. Repare: (inspiração - expiração) e nesse momento cometemos o pecado de acreditar e desacreditar das coisas. Nesse momento, estamos pecando por vermos uma pílula - que pode ser apenas um placebo - que adocica nossos pecados.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O pecado da dúvida

Penso em dizer. Não sei se devo. E se digo, acabo me tornando aquilo que digo, para poder dizer aquilo que penso. Se não quero, acabo não dizendo, ou agradecendo, seja por bem, seja por mal. Se sonho, sonho pouco, meio mal sonhado. E querer já se torna a medida exata para deixar de lado o alvo de tal desejo. Não sei se fico ou se passo. Sei que os portos estão todos fechados e meu barco já não tem ancoradouro. Estou eu cá a deriva, esperando, esperando, esperando. Às vezes acho que fazer pode ser perigoso. Um gesto, um ato, uma decisão. Mas eu falo. Sempre falo. Às vezes falo como quem aconselha, por outras falo como quem implora. E devo fazer isso? Devo aceitar todas as variações? As cores estão dispostas e as cartas estão na mesa. Será que se resolve tudo assim falando. Já não sei se o querer deve ser a medida exata. Porque se fosse, teríamos bolos só de recheio, teríamos semanas só de fins de semana e teríamos coisas eternas e outras tão efêmeras quando ir até o mercado. Somos. Vivemos. Queremos.

"Acho que não sei quem sou.
Ferida leve, tiro de canhão.
Simpatia ou apatia.
Não dá para saber quem sou"

O pecado só é fazer aquilo que se quer. Não esperando nada em troca e tendo consciência de que podemos, queremos e modificamos o mundo e seus portos. Às vezes, a tormenta está apenas nos olhos dos navegantes.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O pecado de conhecer

Era uma tarde chuvosa. Simplesmente era. Não havia muito o que fazer. Houve tanta coisa aquele dia, que mesmo que eu quisesse seria difícil dizer que tinha visto. E posso dizer que meu coração não tinha feito o tal do "clique". E, de repente, não sei se eu ou o que eu chamo de meu "outro em mim" olhou-me no espelho e disse: "Olha ali!" E de repente, eram vidros, gelos e bebidas fortes. E de repente eram palavras, conversas, um beijo de leve e de repente...só a música vibrava...e só os sorrisos já eram confortantes e, hoje, me pego aqui...pensando...que na primeira vez...




domingo, 21 de agosto de 2011

Um pecado de céu nublado

Hoje o dia passou à meia luz. Momentos de reflexão, de contemplação de reviver de se compreender. O tempo parece mais bonito. A primavera logo se anunciará. E o que vai acontecer? Não estou mais buscando respostas. Ouvi esses dias: nós buscamos perguntas. E buscamos, queremos sempre nos indagar, interrogar o mundo. No terreno do hoje não quero mais interrogações. O que busco hoje é o exato estado contemplativo: o estado do conhecer. Começamos agora: e o que acontecerá? Vamos ver...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O pecado de desistir

Simplesmente fica insuportável. Simplesmente não há mais o que fazer nem para onde correr. Dá vontade de simplesmente esquecer de tudo que foi dito. De tudo que foi silenciado para uma boa convivência. De repente, ou mesmo devagar percebemos que não dá. Intragável. Sem perspectiva. E chega a hora de deixar. Deixar o rio fluir, deixar o tempo passar. Deixar o dia virar tudo e da maneira que deve acontecer. Largar a mão. Soltar as rédeas. Deixar o indomável do dia galopar pelos campos do tempo e do espaço. Quebrar porteiras, rasgar vestes. Simplesmente deixar. Já dá para sentir o gosto de choro na garganta. Acabou. Está tudo acabado. E mesmo querendo, sempre tem a hora de jogar a toalha. De desistir antes que tudo vire ranço, vire fraqueza, estrague os dentes e os dias com poucas nuvens. O céu volta a nublar. Realmente temos pouco a decidir em dias nublados. Mas temos muito a contemplar. Há momentos, que a única coisa que podemos oferecer é solidão com vista para o mar. E se não há para onde ir, qualquer caminho é um caminho. Good luck...

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O pecado da culpa

Culpar-se. Julgar-se. Definir-se. Quem ser ou ou que fazer consigo. Talvez, um dos pecados mais cometidos por mim seja o pecado de culpar. Às vezes, essa culpa parece tão irrisória que é mais fácil deixá-la no rosto do outro. Deixar que o outro mostre os pecados como suas oportunidades. E, em outros momentos, talvez menos complicados e muito mais doloridos. Talvez a culpa faça-se presente para que tenhamos um álibi. Ter culpa é normal. Sempre nos culpamos por atos e fatos que acontecem nos nossos dias. Agora colocá-los nas costas e achar que viramos Atlas por esse motivo? Acho um pouco de arrogância. Estou tentando me desfazer desta arrogância. Não enquanto pecado, porque o pecado de ser arrogante é totalmente diferente do pecado da culpa. Culpar-se é pretensioso. Para alguns até destemidamente assustador perceber-se por vezes, até mais limpo de erros do que acreditava ser. Simplesmente, pretensão. Pecados. Qual de nós não temos? Entretanto, ter todos, é uma boa de uma petulância...

sábado, 6 de agosto de 2011

O pecado de mentir

Encontro-me de olhos abertos. E a claridade da manhã me incomoda. Digo bom dia, mas gostaria de dizer que prefiro continuar a dormir. Levanto, vou ao banheiro. Penso em você. Sim, em você que lê este texto e penso no quanto você pode me achar ridículo por falar sobre os pecados como as possibilidades de se viver. No como o meu crer de que "o pecado é apenas aquilo que consideramos errado" e fico enauseado com a ideia de você concordar com tudo isso. E digo a mim mesmo que as pessoas me gostam. Vou ao espelho. Encaro o grotesco ser que vive dentro. Encaro a grotesca casca que vive fora e penso que o cabelo ficou torto, que os olhos são muito fechados, que a boca é muito aberta. E digo, a mim mesmo, nossa, como acordei bem.
Vou aos meus afazeres. Odiando o fato de que não consegui ainda chegar a conclusões. Sabendo que não as quero, mas que preciso delas, me acho ignorante a ponto de querer desistir de tudo. E penso. Hoje estou otimista!
Detalhes mal feitos. Detalhes desses como rabiscos em papel. Nós temos sempre a ideia de que poderemos nos melhorar. Mas nem sabemos o que somos. Sempre achamos que algo está horrível. Sem repararmos que tudo pode ser nosso. Que só nós podemos ter tudo que temos. Lembro de uma querida amiga que sempre comentava... "Minha sobrancelha esquerda está horrível. Mas a direita é perfeita. As duas nunca ficarão iguais. Acontece." É da vida. É do mundo.
Entretanto, gosto do desafio de acreditar que mentir seja a melhor opção. Talvez não seja. Mentir é muito humano. Jogar é muito humano. Mas só nós, humanos, podemos lidar com a sagrada culpa dos profanos pecados.

O pecado do mausoléu

Nosso território. Nossas delimitações. Nossa tumba. É assim o nosso espaço. É em nossa casa que acendemos velas aos nossos mortos, é nela que pensamos e que refletimos sobre o tempo em um só tempo e os espaços que percorremos no período em que não estamos em nosso território. A importância dele está exatamente na sua existência. No nosso querer. Não é necessário ficar. Ficar é querer permanecer. Mas é necessário não nos esquecermos. Termos casa. Termos túmulo. É difícil pensar no mundo se nosso mundo não está constituído. Nada pode ultrapassar nossas margens. Não sem nossa permissão. E nós? Podemos sair de nosso território sem nos permitirmos? Medo. Angústia. Ansiedade. Curiosidade. Efeitos. Grandes feitos. O território tem sempre portas. Quais são as chaves? É em uma delas que se encontra o segredo do pecado.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O pecado do luto

Há quase quatro semanas, brutalmente me coloquei em luto. Sim. Sofrer é parte do fim de tudo. Se algo acaba é necessário que sintamos a dor de ter perdido coisas boas. E quanto melhores foram os momentos, mais doloridos devem ser os choros. Nasci assim, boca aberta, exagerado. Entretanto, há uma semana estou digerindo a cena de uma dessas novelas globais. A cena em que a amada se encontra em um balão com amigo e filho, deixando para trás tudo que viveu. Me senti no lugar dela. Tendo que ir, tendo que viver e tendo que aproveitar ao sabor e saber do vento uma vida que está aí, para ser vivida.
Depois disso, fui em busca da cena do amante, ali, em terra firme e pernas bambas vendo a amada partir e me pus ali, no lugar dele, sentindo a dor de ter entregue o bonito de mim e ter que deixar partir. E então, a frase dramática que sempre gostei. A avó da heroína sorri ao moço, e diz: "-Se ocê gosta mesmo dela, pede pro vento. Só o vento pode trazer ela de volta". E ele pediu, assim meio tímido, ele e eu fomos pensando em tudo de bom que aconteceu. Foram meses para mim. Para ele também, porque as novelas globais tem seus términos também. Pensei nas datas comemorativas, nas discussões acaloradas, nos erros e acertos que cometemos. Pensei no quanto ele foi exímio e no quanto eu fui perfeito. Nada divino, apenas fizemos o possível. Tudo que poderia ser feito. Porque ele não podia mais. Porque eu não podia mais. Porque havíamos chegado na encruzilhada e era hora de soltar as mãos. Soltamos. Soltei.
Chorei como criança ao perceber que não pedi ele de volta para o vento. Não podia. Não há mais o que ser feito ou vivido. Apenas as boas recordações, as lembranças e as caixas de bombons ficaram. Sempre ficam. As pessoas não saem da nossa vida, apenas vão perdendo o foco, ficando menos nítidas. O dia a dia tomou conta da minha vida. E estou carregando este texto comigo há duas semanas. Vê-lo me faz bem. Percebo que pela primeira vez, gostei de alguém sem ter que pressioná-lo a se colocar no papel ideal. Que consegui mostrar o mais importante de mim e que percebi que o que eu posso oferecer e o que ele pode não estão nos mesmos níveis, nas mesmas fases.
O jogo continua e haverá outros parceiros de fase, monstros a vencer e chefes de jogo para ganhar. Ninguém sai da nossa companhia se não dermos adeus. "- Adeus".

sábado, 30 de julho de 2011

O pecado de precisar/querer

Sinto o peito vazio, cheio, vazio, cheio, vazio, cheio...Sensação de que conheço cada detalhe e de que preciso desbravar todos as linhas, cada sentimento. Tenho medo. Querer e precisar não são as mesmas coisas. Às vezes, por futilidade, carência ou qualquer outra dessas insistentes ações de si, queremos simplesmente por querer. Somos birrentos. Brigamos, batemos, apanhamos. Entramos em disputa e buscamos sempre respostas. Queremos, e os quereres são sempre perigosos, afinal, nunca se sabe como nosso objeto de desejo chegará realmente às nossas mãos.
Por vezes, até não queremos, nos dá preguiça, nos parece difícil, ou até mesmo inútil tentar qualquer ação, mas precisamos. É necessário, imprescindível que façamos nossa parte. Bater com a cara no muro, nas árvores, andar às cegas, mas precisamos de algumas coisas para aprendermos. Por vezes parece que quanto menos queremos, mais precisamos, então, é seguir, mesmo a trancos e barrancos, mesmo contra a correnteza, nós fazemos...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O pecado de escrever

Eu sempre faço isso. Simplesmente abro o arquivo, pego a caneta e vou riscando a tinta azul e violando o papel branco. Começo diversas histórias, vou trazendo e matando personagens e mudando todo o cenário previamente pensado. Eu sempre faço isso. Coloco vozes, gestos, detalhes, conto subjetividades que sempre guardei pra mim. Entretanto, quando tudo isso for verdade, como vou dar conta? Quando descobrirem se tudo que já escrevi na minha vida não foi um exercício de jornalismo e sim de boas redações amorosas, como as pessoas vão lidar com essa realidade? A realidade inventada. Minha preocupação acaba sendo: quando descobrirem que tudo que eu contei foi apenas invenção, como ficarão as pessoas? Eu sou uma mentira, daquelas, bem escritas e mal contadas. O que fazer? Acender velas...quantas? O número necessário para apagar um pecado...

domingo, 24 de julho de 2011

O pecado do xadrez

Hoje me dei ao luxo de sonhar. Depois de uma garrafa de vinho, estou disposto a esquecer 2009, de esquecer meus erros que eu não cometi e de me livrar das culpas. Desculpa, tomei uma dessas mágicas pílulas ilusórias e agora não quero mais ser bonzinho e esperar que as coisas se encaixem. Decidi fazer por mim. Sonhar para mim o que quero e correr atrás também faz bem. Não há poeta que não possa rir nos dias de tristeza ou de eloquência. Decidi que não me importo. Que não quero me importar. Deixei o passado embrulhado em uma bela caixa com bastante papel crepon. Um dia atearei fogo nela. Por enquanto, estou admirando o belo pacote que fiz. Já não tenho culpas e não peço desculpas. Hoje, estou com vontade de exercer meu pecado. O doce pecado de ser. O maravilhoso pecado de sonhar. Que se abram os caminhos. Eu estou confiando em mim e daqui pra frente, cuidado. Eu não declaro mais guerras. Cansei de esperar que os jogadores se defendam. Simplesmente apostos, agora vamos jogar vida...e ver quem derruba o rei primeiro. Eu agora ando para todos os lados, menos como cavalo, que ainda não aprendi a me abaixar...

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O pecado de Caio Fernando Abreu

Toda frase que leio do Caio me deixa cada vez mais conturbado. Então, de repente, depois que apanho uma ou outra frase lançada pelas redes sociais, fico com a sensação estranha de compreendê-lo tão bem. Então me pego sentindo dores que não são minhas, ou são e por pura falta do que fazer, ou excesso de vontades, vou e coloco em cada letra bem escrita desse autor, tudo aquilo de bonito que eu queria viver. Ele fala de uma dor que me faz bem. A dor daqueles que se entregam...
Gosto muito do jeito que ele enxerga as mazelas do que chamamos amor. Não que concorde com tudo, mas talvez 99% do que ele diz me faz identificar minha dor com algo. Não que doa também. Mas é que eu preciso de algumas fantasias...dessas dramáticas, como bons amantes das agulhas debaixo das unhas, esses leitores que vivem o que está escrito...

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Quase sem pecados

Já não sei o que faço para entender. Já tomei litros e litros de água, pensei que fosse desidratação, assim como já tentei o ócio porque achei que fosse cansaço. Já tentei rir de tudo e chorar o que pude. Não consegui. Estou me sentindo tão impotente. Parece que não tem mais efeito, essas pílulas estão com prazos vencidos? Quem sabe? Eu não sei porque, ainda não consegui. Ainda estou resistindo a algo que tenho total consciência. Parece que esse bobo coração, esse que ri, tristíssimo, não sabe como bater. Já ouvi músicas que falam de fim, mas nenhuma delas falam o que eu quero ouvir. Foi bom. Vivemos. Acabou. Mas dói. Simplesmente. E minhas pílulas não estão me ajudando. Sinto falta de pensar, de querer, de reclamar. Sinto falta de suplicar para que fique mais alguns minutos. Sinto falta de ter quem amar.
Sim, eu sei. Sobra sempre um "ame-se", mas não é isso. Não sei se é isso. Já não sei muita coisa. Sei que meus dias estão tão nublados quanto esse céu que me cerca. Queria dizer adeus. Eu disse... agora estou esperando que o cérebro e o coração façam suas partes. Deixem de ser resistentes. Eu cansei...confesso: estou com o peito aberto. É isso...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Por favor, um pecado...

É como se estivesse sentado à frente daqueles balcões de bar. Esperando, ansiosamente, pelo olhar do barman, para fazer meu pedido. "-Por favor, um pecado." Não, não precisa colocar gelo, que vai diluí-lo, mais cedo ou mais tarde. Quero um pecado "cowboy", puro, puríssimo. Não gosto de ter que viver as coisas diluídas, até mesmo porque não sou fã da ideia de homeopatia. Gosto daqueles pecados bem vividos, daqueles que se toma num gole só. Quase dose de tequila. Quase um whisky. Mas, sem gelo, sem aperitivos, sem nada. Não quero sentir pequenos gostos, singelas doses. Quero o mais forte que puder. Estou precisando degustar o pecado pra amargar a boca...

domingo, 17 de julho de 2011

O cúmplice do pecado

Ter um cúmplice. É isso. Ao vivermos um relacionamento, sentimos necessidade de que alguém testemunhe nossa vivência, nossa existência e nosso absurdo medo de vivermos só. Solidão. Esse talvez seja o maior medo dos seres. Não ter outro a não ser o reflexo do espelho. Existe medo em pensar-se, em viver-se. Então, o outro se faz tão importante. Você foi um cúmplice maravilhoso, daqueles de cinema. Daqueles mocinhos gostosos que fazem a gente pensar o quanto é bom estar apaixonado. Apaixonar-se é aceitar a perfeita relação que pode acontecer. Nunca será perfeita, mas poderá sempre ser o que quisermos que seja. Os cúmplices devem entender-se, enxergar-se, fazerem-se companhia. E fizemos, e foi bom. E durou o tempo exato para deixar uma saudade gostosa de tudo. Do bilhete, do primeiro abraço, do último beijo. Sempre fica na memória, o bom de tudo que aconteceu. Vivências que vivem em palavras que são lançadas. Como disse Clarice Lispector, eu publico para poder tirar de mim. E quero deixar longe a ideia de que foi apenas cumplicidade. Não. Não foi. Foi um todo, foi um tudo. Um momento gosto de aprendizado, de sorrisos e de vontades, algumas sanadas, outras que ficaram, mas sempre fica. Obrigado por tudo. E espero que nossas estradas continuem próximas e que as visitas sempre sejam repletas de sorrisos e boa companhia, como sempre foi.

Um beijo, bem adoçado com pecado. O pecado de ser um cúmplice que fará falta, mas que é o essencial para garantir e assinar: foi um relacionamento como poucos. Foi uma caminhada deliciosa. Bom caminho, bons caminhos, para nós dois...

sábado, 16 de julho de 2011

O pecador...

Estar em silêncio no meio de uma mesa cheia de pessoas alegres e felizes discutindo sobre os males da sociedade. Sorrir em uma tempestade. Perceber o adeus de um funeral em um sorriso. Compreender o outro sem nenhuma palavra. Chorar com a vitória dos conservadores. Sofrer as dores dos oprimidos. Sentir o chão tremer com o cair das folhas e flores. Ter medo de andar de dia. Ter coragem para andar no escuro, de olhos abertos, sem medo de ver o que poucos podem enxergar, dentro e fora das pessoas que conhece.

Ações como essa são típicas do pecador. Aquele que não teme as tristezas que se dão pelo caminho, mas percebe que não pode ficar parado. Percebe seu poder de ultrapassar barreiras intransponíveis. Sorri nas derrotas e em cada vitória sofre a dor de ser responsável. Responsável por tudo que sempre será nossa culpa. Culpa de termos nascido assim. Pessoas. Com sangue, suor, salive e sêmem. Com menarcas, menstruações, gravidez e menopausas. Com ciclos. Todo pecador vive os ciclos. Sente a pesada mão divina e a leveza de um gesto iluminado.
Todo pecador tem medo de não conseguir exercitar o seu pecado. De não conseguir sentir-se satisfeito. De querer ser invisível e de ter sempre as coisas de bandeja. Os pecadores sofrem com o dia ensolarado e com a chuva incessante. Choram nos dias de céu aberto e nas noites tempestuosas. Sorriem quando veem lágrimas e choram quando os sorrisos perceptíveis são aqueles que doem devagar, dilacerando cada tecido corporal, como uma foice bem afiada.
O pecador é aquele que gosta com todos os motivos que tem e quer com a intenção de se querer bem, sem querer o mal do outro. Ou não. O pecador gosta de perceber-se animal em noites e dias, já não se importando com o clima. Pecador é aquele que busca ser uma fagulha no meio do mar, ser um vendaval em uma caverna. Pecador é aquele que pode ser o que for, será por ser, e não porque disseram que seriam. Ele sente. Sentir, sensorial ou sentimentalmente, esses seres com dentes e mandíbulas são sensitivos. Seus olhos são estrelas caídas e suas vidas, cheias de altitudes.
Um pecador compreende cartografia de olhar o horizonte e compreende a literatura na voz de uma velha.
Velas acesas iluminam o caminho do pecador. Pecador que é pecador não tem medo de lançar a isca e não ter nada preso ao anzol. Porque sempre tem. Porque poder não é o que se busca. É o que se sente. Estamos presos nos emaranhados dos fios. Todos atados. Todos perdidos de maneira organizada. Uma perdição narrada em livros. Contada por sacerdotes e vivida por nós, pecadores. Todo pecador compreende que pecar não é uma escolha. É apenas um jeito de escolher. No fim, somos pecadores a partir do momento que percebemos, sabendo quem somos, que fazemos o que pudermos para nos ver completos. Pecar não faz de nós pessoas malignas, mas nos faz mais concretos. Mais próximos da terra. Mais próximos da Terra. Mais próximos de Gaia. Mas, próximos, sempre serão pecadores. Porque sabem o maior segredo do mundo. O ato que é chamado de pecado...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

O pecado de fazer

"Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor
" (Caio Fernando Abreu).

Às vezes, tenho uma vontade absurda de cobrar. Cobrar atenção, cobrar carinho, cobrar compreensão e tantas outras dessas ações que faço sem esperar nada em troca. Realmente ao desenvolver algo, não fico premeditando que lucros terei de um bom gesto, apenas o faço. Entretanto, ler esta frase do Caio me deixa, meio perdido. Não espero nada em troca? Acho que não posso dizer isso. Sou uma pessoa que responde o triplo do que me é dado. É apenas um sorriso, devo respondê-lo, com a alegria que deixei de ter aos 13 anos. É uma ajuda, ofereço meu ombro sem nenhum saldo a ser pago, apenas não esperarei ser desamparado em um momento de necessidade.
Talvez esse seja o maior problema dos desassossegados, de Martha Medeiros. "Somos sabiamente apressados". Amamos mais do que precisamos e recebemos menos amor do que planejavam. E no verbo amar você pode variar diversos sentidos. Os desassossegados são intensos em tudo. Buscam ser, pensar e agir da melhor maneira, serem sempre elogiados pela capacidade sobre-humana de suportar o insuportável.
Nós queremos salvar o mundo, queremos que as pessoas sejam felizes, que tudo dê certo no final para todos. E, infelizmente, esperamos algo em troca. Não acredito que fazemos errado, apenas acho que ingratidão e silêncio combinam muito bem. Eu, desde muito novo, fui sempre ensinado a agradecer, a perguntar se precisa de ajuda, a se oferecer. Coisas de minha mãe, uma mulher daquelas que como poucas italianas, tem o costume besta de acreditar em contos de fadas. Poucos como eu, que ainda escrevem pensando que isso resolverá algo no externo. Temos fé nisso. Queremos acreditar mais que tudo. Mas nossa crença, sempre nos desespera com a ideia de que mudamos, de que crescemos e as guerras ainda são as mesmas.
Não acho que os "bonzinhos" devam mudar de atitude, acho apenas que nos importamos demais e o mundo perdeu o que significa se importar com o outro. Pernas cansadas caminham quilômetros para se fazer presente. Mas a ausência, em qualquer momento, pode ser inevitável...Tenho medo de perceber o quanto tenho me deixado de lado...Nesse doce pecado de fazer pelos outros, sempre acreditando que não estará sozinho. No final, somos sempre nós em nossos quartos escuros, redigindo nossas solidões...

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O pecado entre fronteiras

No ônibus, de repente, acordei e me deparei com uma faixa azul que chamam de rio, mas que poderia ser a linha divisória daqueles mapas que aprendemos em Geografia, nos tempos de escola. A linha que divide paulistas e paranaenses e que divide mundos tão distantes quanto o que podemos passar. De um lado está minha infância. Meus gostos e desgostos de viver entre as pessoas amadas e de lembrar de pequenos gestos e detalhes da casa de minha avó. Da santa de vidro, onde se colocava água benta e se protegia os queridos. Do cheiro de café impregnado na cozinha e das vontades de criança que não foram sumindo, apenas começaram a diminuir o tom. Do outro lado está o crescimento de um homem que não quer perder tempo. Um homem-coelho. Coelho de Alice, sempre atrasado, sempre inesperado. De um lado existe sentimento. Do outro sensações. É triste perceber que estes dois convivem de forma tão conflituosa. O que ama e o que vive. O que chora e o que luta. São dois, são vários, são tantos e tantos que penso no que teria sido minha vida a cada estrada que eu deixei por ter escolhido outros caminhos. Sinto saudades dos amigos, das brincadeiras e das risadas em praças de igreja, onde cantávamos alegremente e enebriados sobre as crises existenciais da adolescência. De qualquer forma, também sinto saudade do meu futuro e de todas as lutas que quero enfrentar para alcançar o topo da montanha. O cabrito desesperado por subir, por ter seu lugar ao sol. Enquanto esses dois vivem separados, seus sentidos e sentimentos vão se entrelaçando. Os riscos vão aumentando. E as saudades vão se confundindo. Ninguém sabe o mal que faz olhar essa fronteira e pensar. Pensar. Pensar: eu deveria derrubar algumas coisas que acho tão absurdas mas, se não posso mudar um rio de lugar, como faço para mudar o que sinto em relação aos outros? Sinto. Não de sentimento, e sim, de sensações.
Ultimamente meus olhos tem estados mais nítidos e meu tato mais aguçado. O medo me toma por alguns momentos. Acho que o rio que estava em mim começou a secar...

domingo, 3 de julho de 2011

O pecado de pecar

Para cometer um bom pecado, basta escolher como quer se agradar. De que maneiras você acredita que pode se fazer bem. A partir daí, você está atentando contra a sociedade. Isso é um pecado. Ser pecador é uma das coisas mais interessantes que percebi conforme os anos foram passando. Eu descobri que o gosto de pecar está nos pequenos gestos. Nas vontades que ultrapassam o ser, o pensar e o agir no mundo. Descobri que para pecar basta ultrapassar uma linha, daquelas tênues que separam o outro de você. Não precisa de muito. Ultrapasse em sua imaginação. Exercite seu pecar. Pense nos desejos silenciosos de não querer ficar distante do amor que viajou para longe. Nas vontades de esquecer regras e compromissos e viajar para o Chile, no delicioso prazer de ser preguiçoso. Você pode pensar na voz que deseja sibilar em seu pescoço ou nos medos que tem de tentar provar o quanto pode. A soberba é sua. A luxúria pode lhe consumir em cada gesto. O que lhe salva de ir para o chamado inferno é a certeza de que você pode não escolher esses caminhos. Mas o que é o inferno se não o espaço onde você não pode ser você? Nossa sociedade já completa este papel de exigir de nós máscaras bem moldadas. Aceite em seu íntimo o eu que você tem. Às vezes, é bom ter certeza dos males que gostaria de fazer e medi-los, pesar o que é importante para você. O exercício do egoísmo é o que nos permite não agir de maneira pesada ou errada com pessoas que nos importamos. A perversão está em ignorar nossas potencialidades de ser. O medo é muito grande, mas aos conhecer-nos temos mais oportunidades de perceber quem somos, o que queremos e do que estamos dispostos a fazer. Ninguém sabe o caminho para um mundo tranquilo. Mas será que viveríamos em paz, imersos em uma tranquilidade banal? Eu acho que não...

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O pecado da serpente

De repente, me deparo com uma daquelas serpentes. Sabe aquele mito raro entre os quais você acredita que nunca terá a oportunidade de encontrar. Foi interessante, foi intenso e assustador. Mas, o mais assustador foi sentir-me atado àquela cena. Uma serpente parou e me encarou. Em seu olhar fiquei preso, retido, trancado e preguiçoso. Por um momento me senti uma presa, daquelas indefesas, um rato silvestre pronto para ser devorado. Quando percebi, a serpente também estava parada, presa, fixa. Nos encaramos. Eu também sou serpente. Não com as mesmas cores e nem com a mesma peçonha, mas com o mesmo olhar, denso, sincero. Tragamo-nos. Foi um ato no mínimo surpreendente. Perder-se no olhar de uma serpente pode ser algo perigoso. Pode ser algo mortal, mas eu me sentia inteiramente compreendido, sem nenhuma intenção. E, por mais que parecesse uma estranha em meu ninho, eu, uma estranha no ninho dela, nos enroscamos pelos olhares. Duas serpentes. Diferentes mundos, diferentes olhos, diferentes botes, mas o mesmo olhar. Me senti preso aquele olhar que me reteve ali. Sibilei. Sibilou. Sibilou. Sibilou. Sibilei. Sibilei. E de repente, o mundo volta a rodar, muito depressa e intensamente rápido, para mim que estava preso a um momento mágico. Eu fui encarado por uma serpente talvez tão antiga quanto a tradição. Eu a encarei, como quem reconhece, com respeito, um ente próximo, uma companhia de fogueira, uma pessoa intensa.
Entre tantos caminhos possíveis. Eu fui para cima, depois para baixo, e não encarei mais o terror e o prazer daquela serpente, entretanto, fiquei fixo nos castanhos olhos daquela criatura que parece ter visto tantas, se não mais, eras que eu.

sábado, 25 de junho de 2011

O pecado de mim

Eu sempre guardei as coisas. É incrível a capacidade que tenho de esconder com pronfundidade e incômodos as coisas que quero. Sempre escolho pelo outro, sempre decido que a minha felicidade deve estar atrelada com a de outra pessoa. Isso tudo é solidão. É uma falta de descobrir-me, de ver-me, de enxergar-me, sendo mais preciso. Gostar das pessoas me faz muito bem. Sinto necessidade de ter aqueles que me provocam boas sensações, que me fazem inteiro em alguma maneira, mas é pouco e este é o problema. Não posso mais depender tanto das tristes afirmações das pessoas para comprovar quem sou. E esse é o diferencial. Venho, humildemente, pedir desculpas, porque eu devo ser a pessoa que me ama, não você. Não vocês. Eu devo achar que meus textos e meus pretextos são bons o bastante para me basear nas coisas. Eu preciso confiar mais nas potencialidades que eu gosto em mim e deixar de pedir beijos e aplausos a tudo que faço. E, nisso, percebi que o pecado de você é que eu não consigo me enxergar com medo de perder-te. Eu QUERO você. Muito, mas antes de querê-lo, preciso me ter, mas não só de companhia, de passagem, preciso me ter de certeza. Preciso escolher eu antes mesmo de você para que tudo isso possa acontecer numa boa. A vida funciona assim, porque no final, sou eu comigo mesmo, neste quarto, pensando nas coisas que acontecem no mundo. Então, a partir de agora, tenho novos pecados para picar, masserar, dividir e encapsular. Novas pílulas de pecado, mais intensas e oportunas. Você pode fazer parte disso ou não, e sei que fará, mesmo não sendo mais um affair, mesmo sendo um amigo, o importante é que não dependo mais de você para ser feliz. Mas, inegavelmente, seu sorriso me deixa estasiado, e se quiser, tê-lo sempre por perto e poder abracá-lo será um dos prazeres, e por enquanto o maior, desses pecados que são fragmentados em doces pílulas para as horas perfeitas do dia...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O pecado de você

É você sabe? Quando fico pensando, chego sempre nessa ideia. É você. Você que eu espero por horas e horas pra poder te contar das minhas tristezas, dos pulos que meu coração dá, das novidades, que podem ser boas ou não. Penso muito. Não no que você deveria, mas no que eu espero. E não espero que seja perfeito, não espero mais que não doa em você, que não doa em mim. Espero que seja importante a nossa relação, que nos faça ter um pelo outro nas emotividades das ondas e das oportunidades de tudo. É você. Depois de ir e voltar do mundo eu percebi. É você. Só você.

sábado, 18 de junho de 2011

O pecado da valsa

Te convido para dançar. É isso. Eu quero poder desfrutar dos meus dotes de bom dançarino. Não daqueles que valseiam bem, mas daqueles que conseguem em um abraço fazer você sentir-se em uma dança. É apenas uma dança. Não estou pedindo que me ame, apenas que me abrace e aproveite o bailar que nos consola. A solidão se faz grande nesta noite vazia de sábado. E que comece a música, vamos dançar. Vamos sentir a novidade de sermos quem somos nos encher de extrema alegria. Te convido para aproveitar os doces sorrisos e dar-lhe novas oportunidades de conhecer aquilo que você não poderá ver sem mim. Eu quero dançar com você e guiá-lo por noites densas, para que você possa, feliz quem sabe, pensar em amanheceres tão bonitos como os que eu proponho te dar. É uma valsa, não se sinta acanhado. Não imagine que amar é deixar-se perdido aí, por entre meus braços. Quero gostar seus gestos, entender seus encantos e poder ler em seus olhos esse mistério de ser algo que nem mesmo você conhece. É estranho poder dançar com um mascarado em um baile sem máscaras. Gostaria de mais uma bebida? Ou talvez, experimentar outro passo, outro tempo, outro espaço? Eu gostaria. Gostaria de te levar para outras oportunidades, para as minhas mais sublimes vontades. De mergulhar neste Aquário tão profundo e ao mesmo tempo tão raso. Profundo de segredos, de sentimentos, de descobertas. E raso, raso de tudo aquilo que cabe em ti. Queria fazer você sentir-se seguro. Queria abrir seus braços para meus abraços. Queria te roubar o tempo e ao mesmo tempo te daria em troca o brilho dos meus olhos. Coisa rara, talvez a mais cara que eu tenha. Gostar é isso? É experimentar a necessidade de perceber-se sozinho sem o outro. Talvez nunca saberei. Pois, que incógnitas você me dará para decifrar? De que naufrágio você pode ter medo. Já lhe disse, tenho um bom barco e um oceano inteiro de emoções nos aguarda para desbravarmos os sete mares. É só escolher a data e pegar o colete salva-vidas. É, não adianta, mesmo que queria, não vou deixar você nadar em mim sem proteção. Quero que tenha a segurança que busca, nesta viagem-naufrágio que se chama paixão. Nessas mentiras e desesperadoras afirmações que não passam de um poeta criativo e alguns momentos oníricos que querem você aqui. Nos meus braços, por uma noite inteira, do por ao nascer do Sol. Agora falta negociar, como faço para decifrar este labirinto tão exuberante que é você.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O pecado mal dito

Arabela queria ficar. Simplesmente tão destemida como aquelas heroínas de filmes "água-com-açúcar", queria ter a oportunidade de ficar. Não sabia se era certo. Pensava nos outros, pensava em si. Desistir não era muito de seu feitio. Quando pequena, sua mãe a chamava de "tinhosa", pois a menina negava qualquer coisa que necessitasse distância de sua mesa de chá. E como eram doces as tardes em que ela se deleitava com os chás doces, doces como açúcar. Ela queria mais atenção, mais carinho e sempre se fez doce. Arabela gostava de doçura em sua vida. Não esperava respostas, apenas não gostava dos incômodos, do inconveniente momento de ter que pisar nos ladrilhos gelados e ter que ir para a escola. Arabela, mesmo tendo bela no nome era de uma "comumdade" que assustava os mais aflitos e os mais apaixonados. Gostava de ter suas regrinhas, seus pequenos desejos e não abria mão de seus sortilégios. Como era gostava de ficar. Um dia na praia, nos idos de sua infância, se enterrou na areia e decidiu que dali não sairia. E não saiu. Foi arrancada pelo pai, já meio vermelho, já muito bravo que exclamava coisas como "deixe de ser manhosa e vamos". Entretanto, nunca passou pela ideia da menina ir. Ficar era confortável, lhe dava a doce sensação (ou ilusão, quem sabe) de que nada acabaria de repente e que de uma hora para outra, ela entraria em seu quarto e a mesa de chá estaria composta, com bichos de pelúcia e bichos que moravam debaixo da cama. Ela queria ficar. Sempre quis. Então, como de sobressalto, as coisas não pareciam mais tão alegres naquele lugar. A sensação de solidão começou a apavorar a menina, a mulher, a senhora que enrolada em pano branco pedia desesperadamente para sair. "-Alguém me tire daqui. Eu não quero mais ficar! Socorro!" E de repente, depois de invadirem aquele campo branco que enojava os olhos dos mais sãos, homens lhe seguraram pelas estremidades, agulha, pontada, e o quarto foi se compondo, com a mesa de chá e os convidados para outra tarde prazerosa entre doces e a necessidade irritante dela de ficar. Necessidade ou pressão? Ficar ou não?
Ao longe se ouviam os passos dos homens indo e uma das vozes, em tom de zombaria apenas comentou:
"-Todos eles gostam de seus quartos brancos depois da primeira injeção".
Ela não sabia, mas queria ficar...

domingo, 12 de junho de 2011

O pecado do eu

Hoje estou sem vontade de ser quem eu sou. E, de repente, sem necessidade nenhuma de demonstrar interesse, preciso cumprir o que está na minha lista de obras e metas e prazos. Preciso fazer tantas coisas e não quero. Tem dias que simplesmente me mover é tão difícil. É quase impossível ser alguém em dias assim. Eu queria não ser eu. Por hoje, e só por hoje imaginar que tudo pode ser diferente. Queria tirar todas as estrelas do seu e reorganizá-las. Refazer o eu que não estou a fim de construir e de me desenvolver de maneiras diferentes. Que vontade de não me ser, de não me viver, de olhar o mundo de outras perspectivas. E, de repente, o que se sente? Não sei, não sou, não fui...eu vivo...e agora?
Em que espelho ficou perdida a outra face...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O pecado de querer

Quem quer AMAR precisa entender o que essa música significa...porque no fim das contas, é isso...

http://www.youtube.com/watch?v=N3pLiy1yoro&feature=player_embedded

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O pecado do tempo

Menti. Simplesmente menti diversas vezes sobre minha inestimável relação com o tempo. Disse, várias vezes em minha vida que não sei contar o tempo. Isso é uma mentira. Tenho datas, tenho prazos, tenho medos não concluídos e sonhos que tem hora certa para começar e terminar. Eu acredito no poder de definir as coisas, de colocar datas e fixar horários para poder agarrar em alguma coisa. Às vezes, nas madrugadas que se vão, de mansinho, fico imaginando o tempo exato de um segundo. Eu sei contar tempo, sei transformar 21 linhas em um minuto de narração. E o que narro? O que me der, o que for necessário. Conto histórias, leio teorias e invento oportunidades. Sempre fui assim. Não consigo viver sem ter certeza de quanto tempo tenho para poder aproveitar. Meu dia é contado nos minutos que posso ter para ser eu e para ser aquilo que esperam que eu seja, mentalmente, socialmente, culturalmente. Minha identidade e meus medos transformam-se no meu contar de tempo. E, hoje, quase sem tempo, tenho o pavor horrível daqueles que já são adultos e têm que contar períodos, que analisar horários e frases. Eu sei transformar caracteres em tudo que for necessário para o bem estar daqueles que eu admiro, gosto ou preciso para me sentir inteiro. Tenho, por vezes, tempo para sofrer, tempo para chorar, tempo para tudo que é necessário ter tempo. Mas tenho pressa. Não vivo as coisas esperando funcionarem ao bel prazer ou "deixando a vida me levar". Feliz ou infelizmente não é assim que funciona. Eu tenho momentos que devem ser contados. Tenho segundos preciosos investidos nesse emaranhado de palavras que contam minha história. Minha, assim por dizer, porque a conto de minha perspectiva e, com certeza, outro narrador talvez ainda dissesse que é primavera, ainda contasse da chuva que aconteceu ontem ou quem sabe, ainda noticia-se algo. Eu noticio pouco, narro muito, narro tanto que às vezes esqueço quem é o personagem principal. Eu. Eu ou a índia que acabei de enxergar cantando, ou ainda o pirata maltrapilho ou quem sabe aquela senhora sentada ao pé da escada. Conto porque não sei viver sem olhar, sem perceber a medida exata das lágrimas que enchem um copo ou esvaziam a alma. Existe tempo para tudo. E quanto tempo tenho para mim? Essa é uma pergunta que talvez nem meu regente Saturno tem vontade de me contar, mas eu conto.

terça-feira, 7 de junho de 2011

O pecado dos filmes e tardes chuvosas

Tudo parece turvo nesses dias que a chuva chega de surpresa e se instala. E entre portas rangendo e batendo pelo vento que sopra e as folhas, os livros, os papéis e as canetas movem e param, param e move, fico pensando como queria viver numa dessas telonas de cinema. Às vezes, bem de mansinho, queria estar naquelas cenas de aventuras amorosas pelas costas irlandesas e mostrar para você a beleza daquela grama verdinha e da neblina que quase não se dissipa. E de repente, quem sabe, aparecer em uma daquelas vilas da Itália e saborear contigo, um bom almoço, no estilo italiano, com massa, pão, queijos e vinhos, e suco de uva...porque sei que você não gosta de beber.
Queria então mostrar para você as novidades que tenho quando não saio do meu quarto, desses poemas mal rabiscados e das boas conversas que travo destemido contra as frases de Caio Fernando Abreu e os doces cantos de Clarice Lispectos. Queria te contar a chuva numa dessas boas rimas de Cecília Meirelles e dizer que o mar está aqui pertinho para que nós pudessemos saborear a brisa marítima que varre as longínquas encostas...
Tenho tantas vontades, de fazer da minha cama barco e zarpar por um mundo diferente e de te trazer comigo para esse mundo dos sonhos, mas nossos compromissos chatos, não interrompem quando há chuva e eu ainda tenho mais textos e você mais pretextos para quem sabe num próximo encontro zarparmos para algum lugar exótico e interessante entre o meu batuque e o seu coração.
Ainda pego esse ritmo, ainda entro no compasso, ainda danço contigo uma valsa inteira...

E ao terminar este lamento, não que é que o céu abriu? Foi só para eu parar de reclamar de carência e perceber o quanto você clareia meu dia...

Beijos açucarados, meu amor...

domingo, 22 de maio de 2011

O pecado do domingo

É cada vez mais difícil deixá-lo ir no fim do dia. É como se todas as minhas fichas estivessem sido apostadas em poucas horas naquela linda jukebox ao lado. Ainda quero dançar mais músicas e viver mais momentos contigo. Entretanto, chega a hora da partida e mais uma vez me deparo com esta sala branca, com a vida vazia, com minhas muitas letras inundando meus olhares e com a minha cabeça pensando no quanto é bom ter você em meus braços. Percebo que a cada dia, penso mais no que podemos ser, quero mais te contar momentos que eu vivo e ficar em silêncio curtindo este seu ar de não tenho ciúmes e ver nos seus olhos essa chama azulada de não gostei desse seu último comentário. Gosto dos seus beijos-mordidas, os de hoje, os de sempre, gosto do seus olhos tão profundos, do doce da sua boca, que me lembra um pão de mel bem recheado (com bastante recheio), ou então, um pote de 2 litros de sorvete de chocolate com raspas de chocolate e o que mais de doce tiver no mundo. Entretanto, mais um domingo, mais uma vez que você se vai, e fico com um tom agridoce, de encontrar-te e ter de deixá-lo partir.
Espero que tua saudade te traga mais rápido que o ponto final deste texto, que infelizmente, tende a se findar, para poder ser lido com a pureza de quem é deturpado por este tornado chamado amor...Amor? Amor! Amor.

terça-feira, 17 de maio de 2011

O pecado do Sol

Uma manhã azul e inundante começou a clarear. Esta manhã de terça-feira teve um nascer do Sol diferente. Trouxe consigo alguns sorrisos e alguns abrigos que não sei explicar. Sempre tive sonhos de encontrar a beleza por alguma das ruas em que toda manhã passo em busca de conhecer novos conceitos, enfrentar novos desafios, criar novas aptidões. Ultimamente tenho sonhado pouco. As minhas oportunidades têm sido aquelas em que eu me armo, dos pés a cabeça e faço. Faço com consciência dos caminhos que espero trilhar. É triste pensar em hoje, em ontem e em amanhã, e eu tenho muito fixa em mim essa ideia inexata de datas.
Contudo, seu sorriso de boa noite mudou alguma coisa em mim. Me deu mais vontade de estar diante do Sol, de criar novas perspectivas. Deu vontade de limpar a casa, de lavar as roupas que estão no cesto, de viver, de fazer do meu cotidiano um lugar melhor para mim. Eu preciso parar de temer o amanhã, aprender contigo que ele virá e que devemos estar preparados para o crescimento e para as lutas que chegam de supetão e de mansinho, assim, quase que dicotômicas.
Hoje eu estou com vontade de dar risada, de riscar todas as falhas, de tentar novos caminhos e de pensar de diferentes maneiras de como aproveitar o tempo. Não é porque tenho 22 meses regressivos que tudo precisa de tempo. Vamos deixar de quantificá-lo e como disse William Blake "Veja o mundo num grão de areia, veja o céu em um campo florido, guarde o infinito na palma da mão, e a eternidade em uma hora de vida!"
Não sendo dado a autoajuda, tenho tentado compreender o mundo também sem o suplício da automutilação.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O pecado frio

Ontem o vento começou a dar sinais de que não restarão muitos dias de calor antes das quedas abruptas de temperatura que marcam o Inverno. Junho vem chegando e trazendo com ele esse tempo fofo e frio que nos desperta uma necessidade enorme de aconchego. E, nessa necessidade enorme, eu estava a estudar quando de repente...parece que uma porta bate com a força do vento, para que algo nos tira o sono, parece que o calor começa a sumir e eu constatei: - estou apaixonado!
Só pode ser isso. As comidas ficaram mais saborosas, as fotos e imagens de nasceres e pores do Sol ficaram mais bonitas. A lua de prata parece que invade meu quarto e quando não te vejo parece que meu dia não terminou. É, realmente eu estou apaixonado, ou desenvolvi um daqueles transtornos que as pessoas desenvolvem sobre pressão e não consigo mais fechar o sorriso quanto penso em você. Sinto falta quando não troco olhares contigo.
Entretanto, como o inverno, às vezes a gente acha que vai dar pé, que a gente aguenta ficar longe. Mas, às vezes, que horrível é ficar com o peito aberto nesse frio...incomoda não ter você para dar um abraço...

domingo, 8 de maio de 2011

O pecado de ser piegas

Segundo do dicionário online de português, piegas significa "Que ou quem é dado a pieguices. Pessoa afetada, ridícula nas maneiras, dada a infantilidades. Que ou quem é ridiculamente sentimental". Não posso discordar, ele me faz ser assim. Hoje me peguei no quarto andar de um apartamento olhando para o infinito azul que se misturava com o púrpura de outrora, outra noite, outro domingo. E quanto já falei de você nessas 48 horas que custaram a passar. Eu percebi o quanto quero dizer que gosto de você. "...e se eu tiver errado, que se dane o mundo..." sim, eu já estou ouvindo sertanejo por causa desse sorriso que me abre o dia. Em que o céu sempre se reflete imenso e límpido. E quanto sinto falta do teu abraço, dos teus momentos de fuga que terminam em beijo e das minhas risadas contigo. Sinto falta...apenas e tudo isso. Acho que você tem feito cada dia mais parte da minha vontade de acordar e o sono que me dá de vez em quando, é só pra dar coerência a isso. Porque quando eu te encontro, parece que meu corpo, cansado dos dias de entrega aos textos, diz: "-Pronto, agora que viu seu sorriso pode descansar". Contudo, gostaria de expressar neste aglomerado de bits o quando você me faz bem...Sem compromissos e com o abraço apertado que marca esse nosso um mês de desbravamento, eu desbravando você e você desbravando-me, sorrindo-me fazendo-me melhor...

Gosto muito de ti...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O pecado de questionar

Indagar é muito difícil. Partimos sempre do que somos para perguntar ao outro o que ele pensa ser e como ele agiria em uma situação hipotética. A questão é que durante muitos anos direcionei meu amor para mim. Como um espelho, meus parceiros e amantes eram quase que masturbatórios. E, em momentos de crise, quando eles não correspondiam minhas expectativas, entrava em surto. Chorava por ter perdido um grande amor que foi embora, que foi morto e tomou lugar um ser desconhecido.
Hoje, diferente de ontem e de amanhã, busco enxergar no outro as minhas perguntas. Perceber quais seriam as suas respostas. Tentar encontrar o outro num mar de perguntas próprias é muito difícil. Entretanto, para mim que nasci com essa curiosidade de analisar o mundo é complicado não tentar compreender o outro antes mesmo que este outro se compreenda. Sempre muito prestativo, esqueci que devo dar espaço para que outro busque seus caminhos. Portanto, eu tenho deixado perguntas e não mais respostas e perguntas e apontamentos como antes. Tenho tentado me humanizar mais, mesmo que seja difícil e tenho tentado dramatizar menos os meus dramas cotidianos em que sofro pela última gota a cair em um copo ainda vazio, que nunca chegará a ser tempestade verdadeira, pois sempre transformo o drama, com apenas uma gota, e não consigo esperar as tempestades.
Acho bom o quanto você me faz essa diferença. O quanto penso em mim, para pensar em você e me releio. Não tento descobrir o que faria ou se acha que seria útil ou não, tento descobrir o que eu quero saber de mim e como eu quero que você aja, para ter ciência de que não tenho o direito de levá-lo a pensar como eu, e sim, de te ajudar a compreender o todo. Ao mesmo tempo, acho que não devo me meter em sua formação como pessoa, mas isso logo some, entre as vontades de te abraçar e te beijar e de sempre discutir o que você acha que pode ser aquilo e como você o vê...

Eu vejo você e tenho ficado muito feliz por isso...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O amor é punk

É tão bom quando se tem certo o chão que se pisa. Quando deixamos de lado o amor como algo que nos tira o fôlego e aprendemos que os relacionamentos não nos tiram o chão e nos deixam sem fôlego, mas com ele podemos respirar aliviados e ter o chão sempre firme em nossos pés...
Não há tempo ou prazos para amar, apenas há oportunidades de sermos felizes me nossas sinceras tentativas de buscar conhecer alguém...um alguém especial que nos traz conforto por sua existência e que a cada momento nos faz mais donos de nós e de nossos caminhos...

Como conta Fernanda Mello, em sua crônica "Amar é Punk"




Que nossas oportunidades sempre sejam bem aproveitadas, pois o que levamos dessa vida é a oportunidade de "emprestarmos nossa vida para o resto da vida", como disse o célebre Vinícius de Moraes...

O pecado está em tentarmos...parar, para Leminski, dá azar...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O pecado do sabor

É nos momentos de ausência que se percebe que a presença de alguém é o que deixa seu dia mais bonito. Noite passada, sentado admirando a noite se esvair e as pessoas debandarem de volta para a casa dos pais, para os braços dos amores ou para caminhar para novas perspectivas. Senti o vento no rosto e o gosto de saudade invadiu-me a boca. E ao ter o chocolate derretendo na boca senti mais saudade do gosto do teu beijo. E, de repente fiquei em nostalgia. Lembrei do primeiro olhar, do primeiro abraço e do quanto eu não queria te soltar e de repente, achei que devia dizer. É, eu realmente estou sentindo falta de você aqui. O chocolate é doce, mas não tanto quanto tê-lo em meus braços, não conforta tanto quanto aninhar você no meu peito. Sinto falta. Tenho que confessar, que ainda quero te mostrar um mundo de sabores...quero que conheça um pouco da minha perspectiva e leve contigo um pouco de mim...pois sinto que tenho você todo desenhado no meu corpo...

Sinto saudades de você...e tenho o sabor do teu beijo gravado nas papilas...e isso me faz querer ter você sempre aqui...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Uma saudade sem pecados

Éramos 20*

Quando aconteceu parecia um acidente. De repente alguém, por descuido ou com toda intenção, bateu em uma caixa de tintas e derramou vinte cores em um momento pós-moderno. Contrastantes, iluminadas e cheias de vida, as cores eram totalmente desconexas para qualquer admirador de arte, até para os mais afinados. Essas cores não batiam em nada. Eram simplesmente 19 cores primárias. Uma delas, nunca foi vista entre as outras, mas por conveniência sempre esteve lá. E então, o tempo foi passando.

Algumas cores foram desbotando como as lembranças de um velho amor ou de um amigo querido que viajou para longe. Outras foram ganhando destaque. Esse alguém, apenas olhava a dinâmica de tempo e espaço que não foi estabelecida para que essas cores se compreendessem ou decidissem se combinavam ou não. E não combinavam. Compunham. Dançavam a chamada valsa-vida. Uma fase que para todos pode ser experimentada em uma maneira particular, mas que vai apertar o coração de todos que a deixam. Essas cores-pessoas tiveram bons, maus, horríveis, perfeitos, amigáveis, fortes e intensos momentos juntas. Foram 4 anos. E o que parecia tão distante chegou à galope. E em 2010, a sexta turma de Comunicação Social - Jornalismo já enfrentava tarefas de compor projetos, acompanhar disciplinas, desenvolver o temido TCC - Trauma de Conclusão de Curso. Foram 4 anos, que vivemos os meses de formas aleatórias, as semanas vencendo prazos, os dias perdendo-se na função de noticiar. As horas sempre foram deadlines e os minutos sempre foram contados em alguma locução daquele alguém que conta nossa história.

Não será possível esquecer algumas cores, que ficam frescas na retina quando pensarmos em graduação. Será sempre possível ter o peito acalmado ao pensar que vencemos, que lutamos, que crescemos e decompomos um quadro que foi acidental. Essa obra de arte que está nas mãos do leitor é toda feita em cores. E a cada imagem em preto e branco, temos muito rosa, azul, verde, branco, roxo, vermelho, amarelo, laranja e tantas outras que essas escalas de cinza não podem contar.

Alguns que ficam nesta instituição sentirão saudades, outros lembrarão com carinho e no ano que começa daqui a pouco, alguns só ouvirão histórias de cores-pessoas que queriam mudar o mundo. E não tem como dizer que não queríamos. A cada pauta, a cada entrevista, a cada trabalho, a cada discussão acalorada sobre teorias em sala, a cada bom ou mau gesto entre graduandos, nós sempre quisemos salvar o mundo.

E nossa marca ficou no que disse sabiamente Regina de Oliveira, professora da disciplina de Redação Jornalística, no primeiro ano. “Endureçam, mas não percam a ternura”. Outras frases dela ficaram, mas não seria de bom tom citá-las. Ficaram outros grandes mestres e professores dedicados que nos instruíram na arte de contar histórias da vida real.

Eram 19 cores e em quatro anos, apenas 12 delas ficaram. E talvez, menos delas amanhã se deparem com o desesperador mercado de trabalho. O futuro que parecia tão distante enquanto nossas pautas caiam no primeiro ano.

E nessa hora, cabe citar a frase de Rodolfo Londero. “Neste momento, já não me cabe falar mais nada”. Agora nos resta seguir. Cada um a sua estrada, mas todos com um potencial que não será em nenhum momento questionado. Jornalistas. Cores-pessoas.

Esta é nossa última edição. A sexta turma de Comunicação Social - Jornalismo - Elisa Roseira Ferreira Leonardi se despede da Universidade Estadual do Centro-Oeste com muita coragem para seguir, com algumas manchas coloridas pelo corpo e pela alma, pelas pessoas que conhecemos e pelo que elas nos tornaram. Nessa edição você encontrará as últimas matérias feitas por graduandos. E um dia, ainda lerá, ouvirá ou assistirá outras que foram feitas por estes jornalistas.

*Este texto foi publicado na última edição do sexto ano de produção do Jornal Laboratório Ágora em revista, desenvolvido nas disciplinas de Estágio Supervisionado em Jornalismo e Jornal laboratório, no ano de 2010, no curso de Comunicação Social - Jornalismo. Eu, como autor, reproduzi o texto aqui para matar um pouco uma saudade que fica.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O pecado da aventura

De repente, você já não quer mais cumprir sua agenda. Ela parece chatíssima e sem novidades. Não há evento que você não trocaria por outra oportunidade de voltar a aquela cena: os dois, deitados no sofá sorrindo. Não há coisas pelas quais você espere mais ou queira contar apenas para dizer que não é mais apenas seu. A vida cheia de riscos mantém acesa essa vontade de querer mais e pensar que se pode tudo. A atenção às coisas mudam como, por exemplo, os passos na escada. Eu sempre acho que eles são seus. Não que eu não os reconheça, mas é que desejo que sejam. Vontades que surgem, pecados que não se esquece. No corpo ainda estão aquelas delicadas marcas de um encontro acalorado em uma tarde. O que fazer? Em alguns momentos, nos sentimos personagens de peças famosas. E aí? O que dramatizar e o que viver? Temos sempre coisas a cumprir, leituras, escrituras, prazos e oportunidades. E quais delas eu poderia trocar por mais duas horas e dez minutos entre seus braços? O pecado agora está no pouco tempo que são as benditas 24 horas e nas dificuldades que encontramos em um dia...

sábado, 9 de abril de 2011

O pecado em um abraço

Ainda estou procurando palavras pra contar deste pecado, que posso dizer da pílula mais intensa que eu já provei. Foi o tempo mais curto e mais longo que me aconteceu. Eu ainda não sei o que dizer, e sempre tive tantas palavras, tanto pra contar e o que posso dizer? Seu perfume ficou aqui. Aqui me fazendo pensar em tudo. Além dele, ficou um espaço vazio. Falta você aqui para eu continuar a te abraçar, pra nós continuarmos nos abraçando. Realmente eu queria te abraçar. E mudou os sonhos e as vontades, e ficaram soltas as minhas ansiedades. A primeira pílula de pecado que me anestesia, que me instiga a ficar feliz, que muda minhas vontade e que me realiza, me acrescenta. Eu ainda estou com os pensamentos desconexos. Só gostaria de contar, que acabei de experimentar, uma das mais intensas pílulas de pecado: o teu abraço!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O pecado da espera

E às vezes, eu paro e olho pela janela. E por um momento, antes de realmente baixar a vista para encontrar com sua silhueta, peço para que lá ela esteja. E, normalmente você não está...é claro que tenho esses olhares furtivos pela janela, em várias horas da madrugada, em noites que não consegui ver você mais do que uma vez por dia. E, depois de ontem, fico pensando em que coisas quero saber e o que quero partilhar contigo. Tenho essas manias de guardar a última cena e analisar o que eu poderia ter feito para que ela acontecesse de outras maneiras. Tudo bem que sempre prefiro do modo real e sincero que aconteceu, mas vale a pena querer saber o que estou sentindo no momento. Ainda quero saber o que pensa do amor e se acha a política partidária algo interessante. Ainda me pergunto se você conhece os filmes que quero te mostrar e se você sente as mesmas coisas que eu sinto. Enfim, a insegurança e a vontade me tomam e ao mesmo tempo, quero saborear este momento que está tão bom, que está me fazendo bem... Só não sei o que vai acontecer nos próximos episódios, e como todo bom ansioso...às vezes fico horas a fio pensando se consigo descobrir.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O pecado de se molhar

Fina, porém ruidosa, a chuva lá fora me incomoda. Lentamente o som que ela propaga começa a dominar a cozinha escurecendo no fim de tarde. O som de músicas entoadas e de outros barulhos gostosos como a água descendo da torneira vão sendo obrigados a ter como pano de fundo este ruidoso barulho de terra molhando. Ainda não gosto da chuva. Me incomoda a proposta de sair para se molhar, de ter que enfrentar o mundo, que já é meio cinza ainda impregnado de barulhos e umidade, não é muito agradável. E diferentes barulhos vão incomodando este silêncio interno no qual, meditativo, ainda fico pensando nos olhos que passam, que me cumprimentam, que me enlouquecem. Olhos ruidosos como o mar. Um caos marítimo cheio de tinta negra que parece que vai nos devorar. Sim, a nós, eu e o mundo. E enquanto isso, o ruidoso som da chuva me incomoda ao pensar que podemos ser tragados. E eu quero? E eu quero! E eu quero...

quinta-feira, 31 de março de 2011

O pecado no outro banco

E seus olhos hoje cruzaram diretamente com os meus. É de se pensar no que pode acontecer. E quais são as opções? Em seu olhar-maremoto negro não sei se a melhor escolha é me encontrar ou me perder. Sinto vontade de abraçá-lo, mas há mais do que alguns metros de distância entre nós dois. E suas mãos, mesmo tocando as minhas, e seus olhos mesmo flertando com os meus poderão chegar até onde? Não sei se há caminhos para tentar ou oportunidades para seguir. Eu tenho vontade de desvendar seus caminhos, de conhecer os caminhos que te trouxeram até aqui e por quais você pretende trilhar seu futuro...Há tantas vontades e tantas incertezas que não não sei o que fazer. Olho pra ti e fico pensando que eu não sei quase nada de mim...E então fico cantarolando o que não sei dizer como me significa esse mar pronfundo que gostaria de mergulhar...

quarta-feira, 30 de março de 2011

O pecado de temer

E se eu lhe contasse toda a verdade? O que você faria? Essas perguntas passaram o fim de tarde comigo, vendo o sol se pôr. Tristemente fico pensando se aguento mais alguns nãos ou se tenho coragem de colocar o peito mais uma vez a prova. Sou capaz disso? Me pergunto sempre se vale a pena. Entretanto, nunca saberei se não tentar. É tão difícil quando você já tem as respostas para seus dilemas, porque não há como se esconder das tentativas. Tudo que podemos fazer é tentar. E, então, os choros começam a se rarear, as alegrias são mais contidas, porque você já sabe, você sempre soube o que irá acontecer. E fica a pergunta: E se eu lhe contasse toda a verdade, você deixaria eu olhar de perto o fundo dos teus olhos?
E para essa pergunta, ainda não sei se quero ter resposta...

quinta-feira, 24 de março de 2011

O pecado nos teus olhos

Há algumas semanas eu tenho encontrado entre tardes ensolaradas e noites abarrotadas de estrelas, esses olhos que me intrigam. O olhar forte e sereno pode penetrar as mais assustadoras armaduras, como o pessimismo e as autoflagelações que me impus durante tanto tempo. É bonito sofrer, é poético e dá samba, como verbaliza a interpretação do Samba da Benção, que Bebel Gilberto faz com maestria. E poucas são as cenas e pessoas que me tiram deste momento fúnebre que há tanto tenho mantido. E, mesmo quando muitos fazem hinos aos olhos claros, eu faço questão de ressaltar a "tempestade que é da cor dos seus olhos castanhos", que cantou Renato Russo. E que tempestade. Olhar no fundo dos teus olhos é como mergulhar em uma tormenta. É como pensar em novidades mesmo imerso em tantos processos e tantas lutas internas sobre mim e sobre o mundo que vejo. Esses olhos dão esperança a este pobre poeta que de pecador só tem essas pílulas diluídas em blog. Ver-te parece tão bom. Dá vontade de tentar mergulhar realmente nestes mistérios que parecem sombrear o desenho arredondado e perfeito dessas íris que combinam com esse sorriso leve que tens. E o que acontece agora? - posso ser indagado pelos leitores destes desabafos. Ainda não sei se terei coragem de perguntar seu nome ou de me aproximar. O que acontece agora é que estou anestesiado com o castanho e que o mundo pareceu hoje o menos pesado possível.

Sorrisos estão por vir...dá pra sentir o cheiro no ar...

sábado, 19 de março de 2011

O pecado de sentir falta

E de repente tudo volta aos olhos, como se você não apenas relembrasse mais assistisse um filme do passado deixado há algum tempo. A cabeça, mesmo pesada com as atribuições do hoje, ainda retém detalhes como o dia frio que você fervia de febre e as preocupações que você me causou. A alegria da aliança. O sentimento de que você poderia me deixar feliz a todos os instantes e para sempre. Ainda fica na boca o suave gosto apimentado de quando te beijava e a deliciosa vontade de querer você todos os instantes. Sensações que ainda se sente sem coragem de admitir e que ainda espera que aconteça de novo. Apaixonei-me uma vez. Acabou. E mesmo assim há marcas que não consigo esquecer. Suas mãos em meu corpo, a sensação gostosa de quando fazia carinho em suas costas e a vontade de te contar tudo que acontecia no dia. As vontades bestas que sempre tive, como quando comprava um bombom e te entregava cheio de sorrisos. E quantos sorrisos e quantas noites de choro você me rendeu. Este amor o primeiro e talvez será o mais intenso desta vida. Dói porque a gente não tem as coisas de volta. Porque você já não é mais você, aquele sabe, que tinha medo de algumas coisas, que não queria discutir sobre pontos de vista e pra quem eu expliquei sobre reta, plano e ponto. E ponto. Saudade dos abraços de comemoração dos nossos aniversários de namoro e de mim. De como eu era naquela época em que ficamos juntos. Em que vivemos juntos. Dói ainda pensar, que durante tanto tempo ficou em mim. Dói ainda querer quebrar todas as xícaras e querer acordar sua família. Dizem que o tempo cura tudo. Mas, como disse Caio Fernando Abreu: "Ai como você me dói!". E ainda muito, e muitas vezes, nessas solidões em que vivemos.

Saudades de você...

quinta-feira, 3 de março de 2011

O pecado de não se preocupar

O que adianta chorar neste momento? Estou em uma fase em que percebo pessoas desesperadas, arrancando cabelos e reclamando dos problemas, medos, anseios, sustos e desesperos que surgem nesta situação. Mas o que mudará em nossas vidas a ânsia? As dificuldades sempre aparecem e nos colocam em estado de alerta. Ouvi nesta semana que devemos sempre sorrir. Ninguém gosta de ver gente triste e devemos estar sempre com sorrisos largos. A questão a se discutir é "se temos que sorrir, que seja de verdade, não é?".
O desespero nos consome no dia a dia, nos erros que acontecem entre as bifurcações que aparecem. Anseios que fazem com que coelhos apressados apareçam e que você se sinta muito grande ou muito pequeno para diversas situações. E até onde seguir? Por que estampar o rosto com um sorriso e não vivê-lo. "Ninguém disse que seria fácil" é uma frase recorrente na vida de muitas pessoas, todos os dias. Mas não é por isso que deixaremos de aproveitar a fase que não é tranquila. Sorria por conseguir vencer prazos e cumprir objetivos...

Parece ser auto-ajuda, mas se pararmos para pensar. Entrar em colapso por coisas que você já esperava é muito masoquista. Sorria por vontade própria e vai cometer um pecado que poucos têm coragem e que muitos não perdoam.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O pecado de temer

Os amores e os copos d'água são tomados muito depressa. Uma maneira de qualquer sobrevivente engolir logo aquilo de que precisa e continuar sua jornada até o próximo ponto. É triste, mas ninguém quer ser feliz para sempre. Todos têm medo de que a perfeição seja para sempre e ao mesmo tempo de que acabe no próximo instante. Vive-se disso. A sociedade nos exige que devoremos tempo e espaço e que possamos ser exímios. Indivíduos resilientes. E o que pode-se fazer de tão bom se não tem os obstáculos para enfrentar? É nesse momento em que as negras núvens de chuva flutuam sobre os delicados copos d'água. É nesses momentos que percebemos que somos os aventureiros e as interpéries e que para sermos melhores, queremos criar as barreiras mais difíceis. Aprendemos a ser assim. Crescemos sabendo que se não fôssemos heróis. Seríamos mais um dos transeuntes enquanto qualquer dos personagens da Marvel, ou de outra empresa de entretenimento, salvam o mundo. E por que não salvamos o nosso mundo? E por que ter tanto medo de ser vilão de vez em quando? Alguém tem que ser o mal da brincadeira. Isso, eu ouço desde criança. E de que lado você está já não é o bastante. A pergunta hoje é: "-E eu preciso mesmo ser só o vilão ou o mocinho?".

Acabaram-se as cenas de romance e cortejo em torres de mármore. Feliz ou infelizmente.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O pecado da saudade

Não são tempos fáceis. Pelo contrário. Se desamarrar de cada gesto, de cada abraço, de cada esquina e de cada rosto com os quais se conviveu por tanto tempo mata um pouco daquilo que fomos. É como se um espinho ficasse entre os dedos. Incomoda. A dor é quase mínima, mas pode ser latente em momentos específicos. Sentimos saudades do abraço de um, do carinho em palavras de outro. E, às vezes, em noites como a de hoje, sentimos falta daquele olhar de compreensão, ou daquela amiga que segurava a mão trêmula e dizia que tudo daria certo. Crescer faz isso com a gente. Destrói o direito, por vezes, rápido demais. E o sonho de alcançar novas perspectivas não são o bastante em noites como a de hoje. Existe tanto que faz falta. As conversas prolongadas pela vontade de não estar só. As preocupações fingidas em fazer tarefas que sempre foram prazerosas por se fazer em grupo. Saudade das rodas em que as conversas não paravam por um segundo e dos silêncios partilhados entre pessoas que viviam as mesmas coisas. Isso não volta mais. Não importa quantas fotos saudosas foram tiradas ou quantos sonhos ainda ficaram por serem feitos. A saudade não muda. Fere. Arranha. Fica ali, inflamando o peito e deixando mais pesado o dia. Por mais que a rotina mude. Por mais que as novas pessoas e novas rotinas sejam importantes. Nada muda. Ainda se sente falta. Ainda se sente o mesmo medo. Ainda, raramente, se espera que às 3 da manhã ele bata de novo naquela porta de metal. E, ainda, se espera que o colo dos amigos existam. Para sempre.

A saudade pode ser uma companhia dolorosa em dias como o de hoje...

domingo, 23 de janeiro de 2011

O pecado de desejar

E de repente olho pela janela e vejo-o. Não que eu visse ele perfeitamente, mas antes, durante a tarde, já havia olhado para seu corpo. A pele estava bronzeada pelo quente Sol que incide no Trópico de Capricórnio. Usava uma camiseta cor berrante. Tinha a barba pro fazer. Os olhos demonstravam uma seriedade em minha direção. Como se dissessem: "-Não se aproxime!". Cumprimentou com a cabeça e passou, entre outros homens que passaram pela minha visão, pela minha frente, pela minha vida. Tinha um sorriso maroto enquanto conversava. Mas, agora, em silêncio, debaixo da minha janela, olhava aflito o celular que não tocava. Talvez esperasse que alguma menina, conhecida aqui ou ali, ligasse convidando-o para esticar essa preguiçosa madrugada de segunda que começa a se esvair. E lá estava, em um dos bancos. Sentado. Com as pernas cruzadas. Com a barba por fazer. Esfregando as mãos como quem espera. Espera algo que pode não acontecer. E eu, da janela do meu quarto começo a fantasiar coisas que nunca aconteceriam. Imaginei aqueles olhos velando o meu corpo e que aquela barba por fazer poderia passar pela minha pele e enquanto eu sentia aquela sensação áspera, seus braços e suas mãos poderiam esquentar o meu corpo...
E a vontade foi me tomando. E, de repente, ele se levanta. Olha pro céu como quem pergunta "Será que chove?". Coloca o celular silencioso no bolso e vai embora. Levando com ele os delírios de 30 segundos deste poeta admirador da beleza reta de um homem...