terça-feira, 25 de outubro de 2011

O pecado de um término

Ele me disse:

"Mas a verdade é que ainda não quero me prender a nada, a nenhum lugar, a ninguém" (Caio Fernando Abreu).

E eu disse:

"— Não, gurizinho. Quando a gente gosta mesmo duma pessoa, a gente faz essas coisas" (Caio Fernando Abreu.

Então, ele respondeu:

"Confesso que preciso de sorrisos, abraços, chocolates, bons filmes, paciência e coisas desse tipo" (Caio Fernando Abreu)

E eu, só pude responder:

"Não posso esperar. Tenho tudo pronto dentro de mim e uma alma que só sabe viver presentes. Sem esperas, sem amarras, sem receios" (Caio Fernando Abreu)

E, então, ele se foi...

Vieram choros, vieram velas e alguns contos de fada com príncipes, masmorras e princesas...e então...me descubro agora, já não mais tão empolgado com a ideia de que tudo isso seja saudável.

Ele já não lê mais o que eu escrevo, mesmo estando algumas janelas daqui...

domingo, 16 de outubro de 2011

Um pecado em gotas

Diluído na bebida azul, ali estava meu pecado mais feio, mais trêmulo, mais estranho. A beberagem veio pronta, sem riscos de ervas ou efeitos posteriores. Parecia liberdade, mas não estávamos em uma narrativa fílmica. Muito vermelho corria pelo salão, alguns rosas cintilavam. Haviam luzes e um branco descomunal, mas não estava tudo bem. Mergulhei nesses mililitros de azul quando percebi que já não estou disponível a coisas de menino. Estou meio emburrado com a vida. Peguei a bola e fui pra casa. Não estou afim de brincar...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O pecado do preço

Queremos tanto. Queremos tudo. E chega um momento que não sabemos mais o valor das coisas. Dá um medo de abrir o peito. Olhamos a janela iluminada e pensamos: "-Quem será que está a admirar o que nós queremos ver?". E o que queremos ver? Ninguém sabe. Sonhamos tanto. Lutamos todos os dias para conseguir vencer as metas, os prazos, para entregar as coisas na data. Queremos novos sorrisos, queremos outras chances. Encontrar o amor ideal. O emprego perfeito. O que fazer para emprestar a vida para o resto da vida. Sonhamos. Sonhamos demais e com tudo. Acho que ensinam-nos muito mal. Nos mimam com a ideia de que tudo pode melhorar que sempre existe um "felizes para sempre" no fim das histórias. E será que existe fim? E será que existe ser feliz? Há muito fui desacreditando de alguns detalhes desses contos de fadas. Hoje, talvez amanhã também, eu ainda acredite que não há princesas, príncipes e torres. Na verdade, ainda não sei se desci delas...das belas torres de mármore. E aí me pergunto: Será que um dia eu já subi nelas? Lembro-me de um filme, desses do cenário brasileiro, que tinha uma cena emblemática...Pais conversavam...o homem dizia que não sabia o que havia acontecido com os sonhos deles. Ela responde: "Sonhos? Eu tive que viver acordada para criar esses meninos"...Quero muito acreditar que vivi acordado. Nem que esse meu acordado seja apenas uma sensação desse sonho que sonho a tanto tempo... Chega horas como essa...que você se pergunta se vale a pena...a que preço a busca da felicidade? Ninguém sabe, mas qualquer um pagaria...

domingo, 9 de outubro de 2011

O pecado da miragem

As luzes eram das mais diferentes cores. Os gestos, os rostos, os corpos, tudo vibrava em mesma sintonia. Todos dançavam consigo e com outros vistos, não vistos e revistos em sonhos de noites de sábado. Era uma sensação de que se pode estar sempre com todos e sozinho. É ali que o indivíduo se vê e vê tantos outros eus com outros olhares, rostos e corpos...
Foi num momento de descuido que as luzes pararam. Os corpos se movimentavam mais lentamente e me deparei com aqueles olhos. Olhos como tempestades castanhas que profundamente tragavam os passantes. Eram olhos tão intensos que me deixou extremamente embriagado. Nem o vinho, nem as cores, nem a música faziam tanto efeito quanto aqueles olhos. Eram miragens em um deserto de pessoas que não apresentavam tanto.
Uma miragem que se movimentava ao som de uma música própria. À meia-luz trazia silhuetas do corpo aos meus olhos, embevecidos...
Uma vontade de mergulhar naqueles olhos, de conhecer aquela boca, de me perder nos traços e gestos...vontades...

E, de repente, parece que os contos de fadas são tão reais perto daquele olhar...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O pecado da ladeira

É pra subir. E pra subir tentamos tanta coisa. Queremos nos importar mais, queremos nos importar menos. Nos entregamos a tudo que nos é conveniente ou ilusório o bastante para dar a sensação de mudança. Ser nunca mudou o tornar-se, mas alterou-se para onde se vai. Por vezes parece tanto, por vezes parece tão pouco, e nem sabemos se vai dar certo. As vontades são todas saciadas por estranhas carências e carismas práticos ou mecânicos. Dar um jeito. Esse se tornou o lema da vida em uma condição pós-moderna. Já não sei se esse estilo de vida tem haver com o que se pensa que ele é. Tenho a impressão que não conseguimos mais coordenar sensações, gestos, pessoas e cores nos mesmos lugares. Os muitos me incomodam. E, às vezes, incomodam até demais. São tantos deslizes, tantas vontades, tão pouco tempo para se resolver grandes coisas. A vida não para e vamos criando medos, vamos criando vícios em horários e prazos. E o sujeito? Onde nós estamos nisso tudo? Entremeados de laços e fitas? Como memorou um amigo, somos mesmo marionetes. A pergunta é se realmente eu sei onde estão as cordas, ou se já perdi as contas de suas coordenadas.