quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O pecado da Estrela Dalva

Uma chama de vela. Uma moça de longo véu branco está ajoelhada e chorando. Ela está agradecendo. Por que tanto fervor? Porque acreditar é uma dádiva. Ela não está agradecendo uma cura milagrosa, ou o nascimento difícil de um primeiro filho que ela não tem. Ela está agradecendo pelo poder de ter fé. Com um crucifixo de ouro e uma estrela de prata, ela fervorosamente brilha, mais que a vela, iluminando todo o saguão onde fica o altar que ela imaginou.
O que existe? Existe a fé. A fé nela mesma. A fé de que os tempos serão melhores, que as estrelas estão todas no firmamento e que belamente brilham para que se possa pedir, suplicar, implorar, admirar e gritar para elas. Elas estão todas lá e a menina ainda está aqui embaixo a olhá-las:

"Primeira estrela que vejo,
estrela mais brilhante,
realiza meu desejo
que peço neste instante.
(Faça um pedido)"

Pedir. O que? Fé em si. O bastante para poder mover o mundo. Não mais, porque a arrogância pode ser um tiro no pé. Nem menos, porque isso faz de você alguém talvez parecido com o ridículo poeta que está agora, desenfreadamente digitando e procurando em um céu estrelado, ver alguma estrela, que não esteja imersa nas nuvens de tristezas que ele mesmo cultivou.
É setembro. E de repente, os sustos podem ser bons. E são.
Lá, no meio das nuvens de chumbo, a Dalva brilha gloriosa, oferecendo aos filhos de anjos e demônios o poder de ter fé em um dia melhor.
Findando-se o Inverno, a Mãe logo volta. Por enquanto, ter fé e uma estrela já resolve tanta coisa.

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