terça-feira, 28 de setembro de 2010

O pecado da fome

Carlos era um homem que tinha fome. Não uma fome comum, como aquela que todos os dias saliva sua boca próximo das 11 horas da manhã. Era uma fome intensa, que o fazia pensar em quitutes e guloseimas em todos os minutos de sua vida. Queria sempre repetir o prato, comer mais um, pegar outro pra depois. E nunca estava satisfeito. Sempre sentia fome.
Uma tarde, dessas quentes e preguiçosas que se esgueiram, ele passou na frente de uma doceria. E, no balção de doces, talvez ele tivesse encontrado algo que mataria sua fome para sempre. Jeanine, uma moça muito bonita e de mãos delicadas, colocava um bolo de chocolate naquele momento. Como aquela cena lhe dava fome.
Ele entrou, pediu um café e um pedaço do bolo. Jeanine sorriu. Retirou uma generosa fatia e pegou uma xícara de café. E em segundos, os dois recipientes estavam limpos, como se nada tivesse sido colocado. Ele repetiu o pedido. Ela, serviu mais uma vez. E mais alguns segundos, ele repetiu o pedido com a boca ainda cheia e manchada de chocolate. Enquanto ela servia, ele lhe contou que nunca tinha provado algo tão gostoso. Ela sorriu. Colocou o prato e a xícara e enquanto Carlos levantava o garfo ela disse: "-Se você gostou do sabor, agora experimente comer cada garfada delicadamente, como se fosse sua última refeição". E, de repente, o homem parou, ficou pensando nas palavras daquela doce doceira e se conseguiria fazer aquilo. Imagina, comer lentamente, a última refeição. Tirou uma teco do bolo, colocou na boca e começou a mastigar. Os gostos foram povoando a sua boca. No primeiro gole de café, o amargor e o tom doce do final daquela golada, foram queimando e refrescando suas papilas. Depois de uma hora degustando aquele prato, Carlos terminou sua refeição. Sentiu-se tão cheio, tão satisfeito que tentava compreender toda a dinâmica do mundo. Pagou, agradeceu e saiu. Foi viver, afinal, agora sim ele sabia como funcionava toda aquela ideia de existência.

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