quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O pecado de crer

Beatriz era muito religiosa. Desde quando começou a falar, já dizia coisas sobre Deus. Muitos diziam que ela era santa, era algum anjinho desses que vêm a terra para levar luz às pessoas. Sempre gostou de caminhar entre os "irmãos" dando sorrisos e cumprimentando a todos. Era doce e muito fervorosa. Sabia como ninguém compreender os sermões que os padres davam durante a missa. Tentava se abster de todos os pecados que pudesse. Levava boas palavras para pessoas que ela julgava perdidas e tentava sempre alimentar as esperanças daqueles com quem vivia.
Estava na frente de uma lagoa, em uma noite límpida, olhando o milagre da vida e as belezas que "seu" Deus havia criado. Um homem passou por ela e quando a menina disse boa noite, ele disse que não era um bom momento. Sempre com sua mania de ajudar, ela o seguiu e viu que ele se colocava diante da ponte para pular. Desesperada, Beatriz, que tem na origem do nome o significado de enviada por Deus, foi até ele e perguntou porque ele acabaria com sua vida. Ele a olhou muito plácido e disse que nada mais tinha sentido. Era dependente químico, havia sido criado por um padrasto horrível que o molestava e o agredia, tentou várias vezes ser feliz, amou muitas pessoas, tentou conseguir um emprego, fazer da sua vida algo digno, mas nunca conseguiu. Ela, que a tudo ouvia, pensava que talvez se ele soubesse que Deus o amava, ele não faria isso. Sorriu complacente e começou a dizer sobre o que acreditava e como era importante que ele soubesse que Deus o amava e que ele poderia ter uma boa vida, que ele devia tentar mais uma vez, porque a divindade olharia por ele.
O homem sorriu, perguntou qual era seu nome, ela o respondeu dizendo que se chamava Beatriz e que se ele quisesse conversar poderiam passar bastante tempo dialogando e que ela tentaria o ajudar. Ele disse que ela já havia ajudado em sua decisão. O sujeito abriu os braços, e lentamente, enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto, começou a orar. Lágrimas, ele e suas palavras se espatifaram contra o asfalto. Beatriz chorou e naquele momento esperou ouvir ou sentir a presença de Deus. E o vento soprou friamente levando aquele odor de tristeza.

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