quarta-feira, 8 de junho de 2011
O pecado do tempo
Menti. Simplesmente menti diversas vezes sobre minha inestimável relação com o tempo. Disse, várias vezes em minha vida que não sei contar o tempo. Isso é uma mentira. Tenho datas, tenho prazos, tenho medos não concluídos e sonhos que tem hora certa para começar e terminar. Eu acredito no poder de definir as coisas, de colocar datas e fixar horários para poder agarrar em alguma coisa. Às vezes, nas madrugadas que se vão, de mansinho, fico imaginando o tempo exato de um segundo. Eu sei contar tempo, sei transformar 21 linhas em um minuto de narração. E o que narro? O que me der, o que for necessário. Conto histórias, leio teorias e invento oportunidades. Sempre fui assim. Não consigo viver sem ter certeza de quanto tempo tenho para poder aproveitar. Meu dia é contado nos minutos que posso ter para ser eu e para ser aquilo que esperam que eu seja, mentalmente, socialmente, culturalmente. Minha identidade e meus medos transformam-se no meu contar de tempo. E, hoje, quase sem tempo, tenho o pavor horrível daqueles que já são adultos e têm que contar períodos, que analisar horários e frases. Eu sei transformar caracteres em tudo que for necessário para o bem estar daqueles que eu admiro, gosto ou preciso para me sentir inteiro. Tenho, por vezes, tempo para sofrer, tempo para chorar, tempo para tudo que é necessário ter tempo. Mas tenho pressa. Não vivo as coisas esperando funcionarem ao bel prazer ou "deixando a vida me levar". Feliz ou infelizmente não é assim que funciona. Eu tenho momentos que devem ser contados. Tenho segundos preciosos investidos nesse emaranhado de palavras que contam minha história. Minha, assim por dizer, porque a conto de minha perspectiva e, com certeza, outro narrador talvez ainda dissesse que é primavera, ainda contasse da chuva que aconteceu ontem ou quem sabe, ainda noticia-se algo. Eu noticio pouco, narro muito, narro tanto que às vezes esqueço quem é o personagem principal. Eu. Eu ou a índia que acabei de enxergar cantando, ou ainda o pirata maltrapilho ou quem sabe aquela senhora sentada ao pé da escada. Conto porque não sei viver sem olhar, sem perceber a medida exata das lágrimas que enchem um copo ou esvaziam a alma. Existe tempo para tudo. E quanto tempo tenho para mim? Essa é uma pergunta que talvez nem meu regente Saturno tem vontade de me contar, mas eu conto.
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