Sinto o peito vazio, cheio, vazio, cheio, vazio, cheio...Sensação de que conheço cada detalhe e de que preciso desbravar todos as linhas, cada sentimento. Tenho medo. Querer e precisar não são as mesmas coisas. Às vezes, por futilidade, carência ou qualquer outra dessas insistentes ações de si, queremos simplesmente por querer. Somos birrentos. Brigamos, batemos, apanhamos. Entramos em disputa e buscamos sempre respostas. Queremos, e os quereres são sempre perigosos, afinal, nunca se sabe como nosso objeto de desejo chegará realmente às nossas mãos.
Por vezes, até não queremos, nos dá preguiça, nos parece difícil, ou até mesmo inútil tentar qualquer ação, mas precisamos. É necessário, imprescindível que façamos nossa parte. Bater com a cara no muro, nas árvores, andar às cegas, mas precisamos de algumas coisas para aprendermos. Por vezes parece que quanto menos queremos, mais precisamos, então, é seguir, mesmo a trancos e barrancos, mesmo contra a correnteza, nós fazemos...
sábado, 30 de julho de 2011
segunda-feira, 25 de julho de 2011
O pecado de escrever
Eu sempre faço isso. Simplesmente abro o arquivo, pego a caneta e vou riscando a tinta azul e violando o papel branco. Começo diversas histórias, vou trazendo e matando personagens e mudando todo o cenário previamente pensado. Eu sempre faço isso. Coloco vozes, gestos, detalhes, conto subjetividades que sempre guardei pra mim. Entretanto, quando tudo isso for verdade, como vou dar conta? Quando descobrirem se tudo que já escrevi na minha vida não foi um exercício de jornalismo e sim de boas redações amorosas, como as pessoas vão lidar com essa realidade? A realidade inventada. Minha preocupação acaba sendo: quando descobrirem que tudo que eu contei foi apenas invenção, como ficarão as pessoas? Eu sou uma mentira, daquelas, bem escritas e mal contadas. O que fazer? Acender velas...quantas? O número necessário para apagar um pecado...
domingo, 24 de julho de 2011
O pecado do xadrez
Hoje me dei ao luxo de sonhar. Depois de uma garrafa de vinho, estou disposto a esquecer 2009, de esquecer meus erros que eu não cometi e de me livrar das culpas. Desculpa, tomei uma dessas mágicas pílulas ilusórias e agora não quero mais ser bonzinho e esperar que as coisas se encaixem. Decidi fazer por mim. Sonhar para mim o que quero e correr atrás também faz bem. Não há poeta que não possa rir nos dias de tristeza ou de eloquência. Decidi que não me importo. Que não quero me importar. Deixei o passado embrulhado em uma bela caixa com bastante papel crepon. Um dia atearei fogo nela. Por enquanto, estou admirando o belo pacote que fiz. Já não tenho culpas e não peço desculpas. Hoje, estou com vontade de exercer meu pecado. O doce pecado de ser. O maravilhoso pecado de sonhar. Que se abram os caminhos. Eu estou confiando em mim e daqui pra frente, cuidado. Eu não declaro mais guerras. Cansei de esperar que os jogadores se defendam. Simplesmente apostos, agora vamos jogar vida...e ver quem derruba o rei primeiro. Eu agora ando para todos os lados, menos como cavalo, que ainda não aprendi a me abaixar...
sexta-feira, 22 de julho de 2011
O pecado de Caio Fernando Abreu
Toda frase que leio do Caio me deixa cada vez mais conturbado. Então, de repente, depois que apanho uma ou outra frase lançada pelas redes sociais, fico com a sensação estranha de compreendê-lo tão bem. Então me pego sentindo dores que não são minhas, ou são e por pura falta do que fazer, ou excesso de vontades, vou e coloco em cada letra bem escrita desse autor, tudo aquilo de bonito que eu queria viver. Ele fala de uma dor que me faz bem. A dor daqueles que se entregam...
Gosto muito do jeito que ele enxerga as mazelas do que chamamos amor. Não que concorde com tudo, mas talvez 99% do que ele diz me faz identificar minha dor com algo. Não que doa também. Mas é que eu preciso de algumas fantasias...dessas dramáticas, como bons amantes das agulhas debaixo das unhas, esses leitores que vivem o que está escrito...
Gosto muito do jeito que ele enxerga as mazelas do que chamamos amor. Não que concorde com tudo, mas talvez 99% do que ele diz me faz identificar minha dor com algo. Não que doa também. Mas é que eu preciso de algumas fantasias...dessas dramáticas, como bons amantes das agulhas debaixo das unhas, esses leitores que vivem o que está escrito...
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Quase sem pecados
Já não sei o que faço para entender. Já tomei litros e litros de água, pensei que fosse desidratação, assim como já tentei o ócio porque achei que fosse cansaço. Já tentei rir de tudo e chorar o que pude. Não consegui. Estou me sentindo tão impotente. Parece que não tem mais efeito, essas pílulas estão com prazos vencidos? Quem sabe? Eu não sei porque, ainda não consegui. Ainda estou resistindo a algo que tenho total consciência. Parece que esse bobo coração, esse que ri, tristíssimo, não sabe como bater. Já ouvi músicas que falam de fim, mas nenhuma delas falam o que eu quero ouvir. Foi bom. Vivemos. Acabou. Mas dói. Simplesmente. E minhas pílulas não estão me ajudando. Sinto falta de pensar, de querer, de reclamar. Sinto falta de suplicar para que fique mais alguns minutos. Sinto falta de ter quem amar.
Sim, eu sei. Sobra sempre um "ame-se", mas não é isso. Não sei se é isso. Já não sei muita coisa. Sei que meus dias estão tão nublados quanto esse céu que me cerca. Queria dizer adeus. Eu disse... agora estou esperando que o cérebro e o coração façam suas partes. Deixem de ser resistentes. Eu cansei...confesso: estou com o peito aberto. É isso...
Sim, eu sei. Sobra sempre um "ame-se", mas não é isso. Não sei se é isso. Já não sei muita coisa. Sei que meus dias estão tão nublados quanto esse céu que me cerca. Queria dizer adeus. Eu disse... agora estou esperando que o cérebro e o coração façam suas partes. Deixem de ser resistentes. Eu cansei...confesso: estou com o peito aberto. É isso...
terça-feira, 19 de julho de 2011
Por favor, um pecado...
É como se estivesse sentado à frente daqueles balcões de bar. Esperando, ansiosamente, pelo olhar do barman, para fazer meu pedido. "-Por favor, um pecado." Não, não precisa colocar gelo, que vai diluí-lo, mais cedo ou mais tarde. Quero um pecado "cowboy", puro, puríssimo. Não gosto de ter que viver as coisas diluídas, até mesmo porque não sou fã da ideia de homeopatia. Gosto daqueles pecados bem vividos, daqueles que se toma num gole só. Quase dose de tequila. Quase um whisky. Mas, sem gelo, sem aperitivos, sem nada. Não quero sentir pequenos gostos, singelas doses. Quero o mais forte que puder. Estou precisando degustar o pecado pra amargar a boca...
domingo, 17 de julho de 2011
O cúmplice do pecado
Ter um cúmplice. É isso. Ao vivermos um relacionamento, sentimos necessidade de que alguém testemunhe nossa vivência, nossa existência e nosso absurdo medo de vivermos só. Solidão. Esse talvez seja o maior medo dos seres. Não ter outro a não ser o reflexo do espelho. Existe medo em pensar-se, em viver-se. Então, o outro se faz tão importante. Você foi um cúmplice maravilhoso, daqueles de cinema. Daqueles mocinhos gostosos que fazem a gente pensar o quanto é bom estar apaixonado. Apaixonar-se é aceitar a perfeita relação que pode acontecer. Nunca será perfeita, mas poderá sempre ser o que quisermos que seja. Os cúmplices devem entender-se, enxergar-se, fazerem-se companhia. E fizemos, e foi bom. E durou o tempo exato para deixar uma saudade gostosa de tudo. Do bilhete, do primeiro abraço, do último beijo. Sempre fica na memória, o bom de tudo que aconteceu. Vivências que vivem em palavras que são lançadas. Como disse Clarice Lispector, eu publico para poder tirar de mim. E quero deixar longe a ideia de que foi apenas cumplicidade. Não. Não foi. Foi um todo, foi um tudo. Um momento gosto de aprendizado, de sorrisos e de vontades, algumas sanadas, outras que ficaram, mas sempre fica. Obrigado por tudo. E espero que nossas estradas continuem próximas e que as visitas sempre sejam repletas de sorrisos e boa companhia, como sempre foi.
Um beijo, bem adoçado com pecado. O pecado de ser um cúmplice que fará falta, mas que é o essencial para garantir e assinar: foi um relacionamento como poucos. Foi uma caminhada deliciosa. Bom caminho, bons caminhos, para nós dois...
Um beijo, bem adoçado com pecado. O pecado de ser um cúmplice que fará falta, mas que é o essencial para garantir e assinar: foi um relacionamento como poucos. Foi uma caminhada deliciosa. Bom caminho, bons caminhos, para nós dois...
sábado, 16 de julho de 2011
O pecador...
Estar em silêncio no meio de uma mesa cheia de pessoas alegres e felizes discutindo sobre os males da sociedade. Sorrir em uma tempestade. Perceber o adeus de um funeral em um sorriso. Compreender o outro sem nenhuma palavra. Chorar com a vitória dos conservadores. Sofrer as dores dos oprimidos. Sentir o chão tremer com o cair das folhas e flores. Ter medo de andar de dia. Ter coragem para andar no escuro, de olhos abertos, sem medo de ver o que poucos podem enxergar, dentro e fora das pessoas que conhece.
Ações como essa são típicas do pecador. Aquele que não teme as tristezas que se dão pelo caminho, mas percebe que não pode ficar parado. Percebe seu poder de ultrapassar barreiras intransponíveis. Sorri nas derrotas e em cada vitória sofre a dor de ser responsável. Responsável por tudo que sempre será nossa culpa. Culpa de termos nascido assim. Pessoas. Com sangue, suor, salive e sêmem. Com menarcas, menstruações, gravidez e menopausas. Com ciclos. Todo pecador vive os ciclos. Sente a pesada mão divina e a leveza de um gesto iluminado.
Todo pecador tem medo de não conseguir exercitar o seu pecado. De não conseguir sentir-se satisfeito. De querer ser invisível e de ter sempre as coisas de bandeja. Os pecadores sofrem com o dia ensolarado e com a chuva incessante. Choram nos dias de céu aberto e nas noites tempestuosas. Sorriem quando veem lágrimas e choram quando os sorrisos perceptíveis são aqueles que doem devagar, dilacerando cada tecido corporal, como uma foice bem afiada.
O pecador é aquele que gosta com todos os motivos que tem e quer com a intenção de se querer bem, sem querer o mal do outro. Ou não. O pecador gosta de perceber-se animal em noites e dias, já não se importando com o clima. Pecador é aquele que busca ser uma fagulha no meio do mar, ser um vendaval em uma caverna. Pecador é aquele que pode ser o que for, será por ser, e não porque disseram que seriam. Ele sente. Sentir, sensorial ou sentimentalmente, esses seres com dentes e mandíbulas são sensitivos. Seus olhos são estrelas caídas e suas vidas, cheias de altitudes.
Um pecador compreende cartografia de olhar o horizonte e compreende a literatura na voz de uma velha.
Velas acesas iluminam o caminho do pecador. Pecador que é pecador não tem medo de lançar a isca e não ter nada preso ao anzol. Porque sempre tem. Porque poder não é o que se busca. É o que se sente. Estamos presos nos emaranhados dos fios. Todos atados. Todos perdidos de maneira organizada. Uma perdição narrada em livros. Contada por sacerdotes e vivida por nós, pecadores. Todo pecador compreende que pecar não é uma escolha. É apenas um jeito de escolher. No fim, somos pecadores a partir do momento que percebemos, sabendo quem somos, que fazemos o que pudermos para nos ver completos. Pecar não faz de nós pessoas malignas, mas nos faz mais concretos. Mais próximos da terra. Mais próximos da Terra. Mais próximos de Gaia. Mas, próximos, sempre serão pecadores. Porque sabem o maior segredo do mundo. O ato que é chamado de pecado...
Ações como essa são típicas do pecador. Aquele que não teme as tristezas que se dão pelo caminho, mas percebe que não pode ficar parado. Percebe seu poder de ultrapassar barreiras intransponíveis. Sorri nas derrotas e em cada vitória sofre a dor de ser responsável. Responsável por tudo que sempre será nossa culpa. Culpa de termos nascido assim. Pessoas. Com sangue, suor, salive e sêmem. Com menarcas, menstruações, gravidez e menopausas. Com ciclos. Todo pecador vive os ciclos. Sente a pesada mão divina e a leveza de um gesto iluminado.
Todo pecador tem medo de não conseguir exercitar o seu pecado. De não conseguir sentir-se satisfeito. De querer ser invisível e de ter sempre as coisas de bandeja. Os pecadores sofrem com o dia ensolarado e com a chuva incessante. Choram nos dias de céu aberto e nas noites tempestuosas. Sorriem quando veem lágrimas e choram quando os sorrisos perceptíveis são aqueles que doem devagar, dilacerando cada tecido corporal, como uma foice bem afiada.
O pecador é aquele que gosta com todos os motivos que tem e quer com a intenção de se querer bem, sem querer o mal do outro. Ou não. O pecador gosta de perceber-se animal em noites e dias, já não se importando com o clima. Pecador é aquele que busca ser uma fagulha no meio do mar, ser um vendaval em uma caverna. Pecador é aquele que pode ser o que for, será por ser, e não porque disseram que seriam. Ele sente. Sentir, sensorial ou sentimentalmente, esses seres com dentes e mandíbulas são sensitivos. Seus olhos são estrelas caídas e suas vidas, cheias de altitudes.
Um pecador compreende cartografia de olhar o horizonte e compreende a literatura na voz de uma velha.
Velas acesas iluminam o caminho do pecador. Pecador que é pecador não tem medo de lançar a isca e não ter nada preso ao anzol. Porque sempre tem. Porque poder não é o que se busca. É o que se sente. Estamos presos nos emaranhados dos fios. Todos atados. Todos perdidos de maneira organizada. Uma perdição narrada em livros. Contada por sacerdotes e vivida por nós, pecadores. Todo pecador compreende que pecar não é uma escolha. É apenas um jeito de escolher. No fim, somos pecadores a partir do momento que percebemos, sabendo quem somos, que fazemos o que pudermos para nos ver completos. Pecar não faz de nós pessoas malignas, mas nos faz mais concretos. Mais próximos da terra. Mais próximos da Terra. Mais próximos de Gaia. Mas, próximos, sempre serão pecadores. Porque sabem o maior segredo do mundo. O ato que é chamado de pecado...
quinta-feira, 14 de julho de 2011
O pecado de fazer
"Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor" (Caio Fernando Abreu).
Às vezes, tenho uma vontade absurda de cobrar. Cobrar atenção, cobrar carinho, cobrar compreensão e tantas outras dessas ações que faço sem esperar nada em troca. Realmente ao desenvolver algo, não fico premeditando que lucros terei de um bom gesto, apenas o faço. Entretanto, ler esta frase do Caio me deixa, meio perdido. Não espero nada em troca? Acho que não posso dizer isso. Sou uma pessoa que responde o triplo do que me é dado. É apenas um sorriso, devo respondê-lo, com a alegria que deixei de ter aos 13 anos. É uma ajuda, ofereço meu ombro sem nenhum saldo a ser pago, apenas não esperarei ser desamparado em um momento de necessidade.
Talvez esse seja o maior problema dos desassossegados, de Martha Medeiros. "Somos sabiamente apressados". Amamos mais do que precisamos e recebemos menos amor do que planejavam. E no verbo amar você pode variar diversos sentidos. Os desassossegados são intensos em tudo. Buscam ser, pensar e agir da melhor maneira, serem sempre elogiados pela capacidade sobre-humana de suportar o insuportável.
Nós queremos salvar o mundo, queremos que as pessoas sejam felizes, que tudo dê certo no final para todos. E, infelizmente, esperamos algo em troca. Não acredito que fazemos errado, apenas acho que ingratidão e silêncio combinam muito bem. Eu, desde muito novo, fui sempre ensinado a agradecer, a perguntar se precisa de ajuda, a se oferecer. Coisas de minha mãe, uma mulher daquelas que como poucas italianas, tem o costume besta de acreditar em contos de fadas. Poucos como eu, que ainda escrevem pensando que isso resolverá algo no externo. Temos fé nisso. Queremos acreditar mais que tudo. Mas nossa crença, sempre nos desespera com a ideia de que mudamos, de que crescemos e as guerras ainda são as mesmas.
Não acho que os "bonzinhos" devam mudar de atitude, acho apenas que nos importamos demais e o mundo perdeu o que significa se importar com o outro. Pernas cansadas caminham quilômetros para se fazer presente. Mas a ausência, em qualquer momento, pode ser inevitável...Tenho medo de perceber o quanto tenho me deixado de lado...Nesse doce pecado de fazer pelos outros, sempre acreditando que não estará sozinho. No final, somos sempre nós em nossos quartos escuros, redigindo nossas solidões...
Às vezes, tenho uma vontade absurda de cobrar. Cobrar atenção, cobrar carinho, cobrar compreensão e tantas outras dessas ações que faço sem esperar nada em troca. Realmente ao desenvolver algo, não fico premeditando que lucros terei de um bom gesto, apenas o faço. Entretanto, ler esta frase do Caio me deixa, meio perdido. Não espero nada em troca? Acho que não posso dizer isso. Sou uma pessoa que responde o triplo do que me é dado. É apenas um sorriso, devo respondê-lo, com a alegria que deixei de ter aos 13 anos. É uma ajuda, ofereço meu ombro sem nenhum saldo a ser pago, apenas não esperarei ser desamparado em um momento de necessidade.
Talvez esse seja o maior problema dos desassossegados, de Martha Medeiros. "Somos sabiamente apressados". Amamos mais do que precisamos e recebemos menos amor do que planejavam. E no verbo amar você pode variar diversos sentidos. Os desassossegados são intensos em tudo. Buscam ser, pensar e agir da melhor maneira, serem sempre elogiados pela capacidade sobre-humana de suportar o insuportável.
Nós queremos salvar o mundo, queremos que as pessoas sejam felizes, que tudo dê certo no final para todos. E, infelizmente, esperamos algo em troca. Não acredito que fazemos errado, apenas acho que ingratidão e silêncio combinam muito bem. Eu, desde muito novo, fui sempre ensinado a agradecer, a perguntar se precisa de ajuda, a se oferecer. Coisas de minha mãe, uma mulher daquelas que como poucas italianas, tem o costume besta de acreditar em contos de fadas. Poucos como eu, que ainda escrevem pensando que isso resolverá algo no externo. Temos fé nisso. Queremos acreditar mais que tudo. Mas nossa crença, sempre nos desespera com a ideia de que mudamos, de que crescemos e as guerras ainda são as mesmas.
Não acho que os "bonzinhos" devam mudar de atitude, acho apenas que nos importamos demais e o mundo perdeu o que significa se importar com o outro. Pernas cansadas caminham quilômetros para se fazer presente. Mas a ausência, em qualquer momento, pode ser inevitável...Tenho medo de perceber o quanto tenho me deixado de lado...Nesse doce pecado de fazer pelos outros, sempre acreditando que não estará sozinho. No final, somos sempre nós em nossos quartos escuros, redigindo nossas solidões...
quinta-feira, 7 de julho de 2011
O pecado entre fronteiras
No ônibus, de repente, acordei e me deparei com uma faixa azul que chamam de rio, mas que poderia ser a linha divisória daqueles mapas que aprendemos em Geografia, nos tempos de escola. A linha que divide paulistas e paranaenses e que divide mundos tão distantes quanto o que podemos passar. De um lado está minha infância. Meus gostos e desgostos de viver entre as pessoas amadas e de lembrar de pequenos gestos e detalhes da casa de minha avó. Da santa de vidro, onde se colocava água benta e se protegia os queridos. Do cheiro de café impregnado na cozinha e das vontades de criança que não foram sumindo, apenas começaram a diminuir o tom. Do outro lado está o crescimento de um homem que não quer perder tempo. Um homem-coelho. Coelho de Alice, sempre atrasado, sempre inesperado. De um lado existe sentimento. Do outro sensações. É triste perceber que estes dois convivem de forma tão conflituosa. O que ama e o que vive. O que chora e o que luta. São dois, são vários, são tantos e tantos que penso no que teria sido minha vida a cada estrada que eu deixei por ter escolhido outros caminhos. Sinto saudades dos amigos, das brincadeiras e das risadas em praças de igreja, onde cantávamos alegremente e enebriados sobre as crises existenciais da adolescência. De qualquer forma, também sinto saudade do meu futuro e de todas as lutas que quero enfrentar para alcançar o topo da montanha. O cabrito desesperado por subir, por ter seu lugar ao sol. Enquanto esses dois vivem separados, seus sentidos e sentimentos vão se entrelaçando. Os riscos vão aumentando. E as saudades vão se confundindo. Ninguém sabe o mal que faz olhar essa fronteira e pensar. Pensar. Pensar: eu deveria derrubar algumas coisas que acho tão absurdas mas, se não posso mudar um rio de lugar, como faço para mudar o que sinto em relação aos outros? Sinto. Não de sentimento, e sim, de sensações.
Ultimamente meus olhos tem estados mais nítidos e meu tato mais aguçado. O medo me toma por alguns momentos. Acho que o rio que estava em mim começou a secar...
Ultimamente meus olhos tem estados mais nítidos e meu tato mais aguçado. O medo me toma por alguns momentos. Acho que o rio que estava em mim começou a secar...
domingo, 3 de julho de 2011
O pecado de pecar
Para cometer um bom pecado, basta escolher como quer se agradar. De que maneiras você acredita que pode se fazer bem. A partir daí, você está atentando contra a sociedade. Isso é um pecado. Ser pecador é uma das coisas mais interessantes que percebi conforme os anos foram passando. Eu descobri que o gosto de pecar está nos pequenos gestos. Nas vontades que ultrapassam o ser, o pensar e o agir no mundo. Descobri que para pecar basta ultrapassar uma linha, daquelas tênues que separam o outro de você. Não precisa de muito. Ultrapasse em sua imaginação. Exercite seu pecar. Pense nos desejos silenciosos de não querer ficar distante do amor que viajou para longe. Nas vontades de esquecer regras e compromissos e viajar para o Chile, no delicioso prazer de ser preguiçoso. Você pode pensar na voz que deseja sibilar em seu pescoço ou nos medos que tem de tentar provar o quanto pode. A soberba é sua. A luxúria pode lhe consumir em cada gesto. O que lhe salva de ir para o chamado inferno é a certeza de que você pode não escolher esses caminhos. Mas o que é o inferno se não o espaço onde você não pode ser você? Nossa sociedade já completa este papel de exigir de nós máscaras bem moldadas. Aceite em seu íntimo o eu que você tem. Às vezes, é bom ter certeza dos males que gostaria de fazer e medi-los, pesar o que é importante para você. O exercício do egoísmo é o que nos permite não agir de maneira pesada ou errada com pessoas que nos importamos. A perversão está em ignorar nossas potencialidades de ser. O medo é muito grande, mas aos conhecer-nos temos mais oportunidades de perceber quem somos, o que queremos e do que estamos dispostos a fazer. Ninguém sabe o caminho para um mundo tranquilo. Mas será que viveríamos em paz, imersos em uma tranquilidade banal? Eu acho que não...
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