No ônibus, de repente, acordei e me deparei com uma faixa azul que chamam de rio, mas que poderia ser a linha divisória daqueles mapas que aprendemos em Geografia, nos tempos de escola. A linha que divide paulistas e paranaenses e que divide mundos tão distantes quanto o que podemos passar. De um lado está minha infância. Meus gostos e desgostos de viver entre as pessoas amadas e de lembrar de pequenos gestos e detalhes da casa de minha avó. Da santa de vidro, onde se colocava água benta e se protegia os queridos. Do cheiro de café impregnado na cozinha e das vontades de criança que não foram sumindo, apenas começaram a diminuir o tom. Do outro lado está o crescimento de um homem que não quer perder tempo. Um homem-coelho. Coelho de Alice, sempre atrasado, sempre inesperado. De um lado existe sentimento. Do outro sensações. É triste perceber que estes dois convivem de forma tão conflituosa. O que ama e o que vive. O que chora e o que luta. São dois, são vários, são tantos e tantos que penso no que teria sido minha vida a cada estrada que eu deixei por ter escolhido outros caminhos. Sinto saudades dos amigos, das brincadeiras e das risadas em praças de igreja, onde cantávamos alegremente e enebriados sobre as crises existenciais da adolescência. De qualquer forma, também sinto saudade do meu futuro e de todas as lutas que quero enfrentar para alcançar o topo da montanha. O cabrito desesperado por subir, por ter seu lugar ao sol. Enquanto esses dois vivem separados, seus sentidos e sentimentos vão se entrelaçando. Os riscos vão aumentando. E as saudades vão se confundindo. Ninguém sabe o mal que faz olhar essa fronteira e pensar. Pensar. Pensar: eu deveria derrubar algumas coisas que acho tão absurdas mas, se não posso mudar um rio de lugar, como faço para mudar o que sinto em relação aos outros? Sinto. Não de sentimento, e sim, de sensações.
Ultimamente meus olhos tem estados mais nítidos e meu tato mais aguçado. O medo me toma por alguns momentos. Acho que o rio que estava em mim começou a secar...
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