quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O pecado do luto

Há quase quatro semanas, brutalmente me coloquei em luto. Sim. Sofrer é parte do fim de tudo. Se algo acaba é necessário que sintamos a dor de ter perdido coisas boas. E quanto melhores foram os momentos, mais doloridos devem ser os choros. Nasci assim, boca aberta, exagerado. Entretanto, há uma semana estou digerindo a cena de uma dessas novelas globais. A cena em que a amada se encontra em um balão com amigo e filho, deixando para trás tudo que viveu. Me senti no lugar dela. Tendo que ir, tendo que viver e tendo que aproveitar ao sabor e saber do vento uma vida que está aí, para ser vivida.
Depois disso, fui em busca da cena do amante, ali, em terra firme e pernas bambas vendo a amada partir e me pus ali, no lugar dele, sentindo a dor de ter entregue o bonito de mim e ter que deixar partir. E então, a frase dramática que sempre gostei. A avó da heroína sorri ao moço, e diz: "-Se ocê gosta mesmo dela, pede pro vento. Só o vento pode trazer ela de volta". E ele pediu, assim meio tímido, ele e eu fomos pensando em tudo de bom que aconteceu. Foram meses para mim. Para ele também, porque as novelas globais tem seus términos também. Pensei nas datas comemorativas, nas discussões acaloradas, nos erros e acertos que cometemos. Pensei no quanto ele foi exímio e no quanto eu fui perfeito. Nada divino, apenas fizemos o possível. Tudo que poderia ser feito. Porque ele não podia mais. Porque eu não podia mais. Porque havíamos chegado na encruzilhada e era hora de soltar as mãos. Soltamos. Soltei.
Chorei como criança ao perceber que não pedi ele de volta para o vento. Não podia. Não há mais o que ser feito ou vivido. Apenas as boas recordações, as lembranças e as caixas de bombons ficaram. Sempre ficam. As pessoas não saem da nossa vida, apenas vão perdendo o foco, ficando menos nítidas. O dia a dia tomou conta da minha vida. E estou carregando este texto comigo há duas semanas. Vê-lo me faz bem. Percebo que pela primeira vez, gostei de alguém sem ter que pressioná-lo a se colocar no papel ideal. Que consegui mostrar o mais importante de mim e que percebi que o que eu posso oferecer e o que ele pode não estão nos mesmos níveis, nas mesmas fases.
O jogo continua e haverá outros parceiros de fase, monstros a vencer e chefes de jogo para ganhar. Ninguém sai da nossa companhia se não dermos adeus. "- Adeus".

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